se salvador dalí dizia que uma obra de arte é útil para taparmos a fissura de uma parede de casa, os sócios da mapdesign dizem que a parede de casa pode ser a obra de arte.
«é muito fácil para nós ver na arte um lado prático», observa francisco chendo, apontando para o recheio do nº 17 a da rua rosa damasceno, perto da alameda d. afonso henriques, em lisboa. não fossem os sócios da mapdesign designers de formação.
a ideia de criarem uma loja que fosse simultaneamente uma plataforma de encontro de artistas e designers – onde estes pudessem expor os seus trabalhos, vendê-los e dar workshops – surgiu depois de francisco e joana matos rosa concluírem os seus mestrados. ele mais virado para a arte (arte e design do espaço público), ela mais virada para o negócio (gestão de design).
«todos sabemos que as coisas estão difíceis, mas em vez de estarmos à espera que nos caísse algo do céu resolvemos dar uma de empreendedores, unindo as nossas valências», comentou joana.
a dupla de 24 anos, ex-colegas da faculdade, arregaçou as mangas, lançou-se à internet e viajou em busca de nomes, uns mais anónimos que outros. de projectos da milan design week a artistas de rua portugueses, o resultado foi uma miscelânea de criatividade: as paredes do espaço estão cobertas de fotografias, pinturas a acrílico, ilustrações e stencils; e os móveis (muitos deles reaproveitados da antiga tapeçaria que ocupava o lugar) carregados de curiosas peças de design e revistas de arte e arquitectura.
saltam à vista casas de bonecas de cartão reciclado (paper pod), lavatórios de cortiça do alentejo (simpleformsdesign), queijeiras feitas a partir de garrafões de vidro (alentejoazul) e as malas de teclados de computador criadas por joão sabino.
«é possível usar colheres de bambu?» a pergunta é feita pela maioria dos clientes quando as vê numa das prateleiras. joana comenta que o objectivo das peças seleccionadas é também o de educar. «procuramos objectos com o melhor material para a função a que se propõem». a maioria recebeu algum reconhecimento por uma entidade creditada, seja através de selos ambientais ou prémios.
quanto à faceta de galeria – onde a arte pela arte se encontra à venda mas tem direito a curadoria -, francisco diz que «o circuito muito fechado e cheio de exclusividade da arte assim o exigia». recorda o episódio em que foi protestar para a porta da fil arte lisboa. quando lá chegou, o jovem designer encontrou artistas com quem trabalha do colectivo flying house: «é engraçado como sem combinarmos fizemos o mesmo. eles montaram uma galeria ambulante no exterior como crítica aos preços caríssimos para expor na feira».
é por isso que faz todo o sentido «um espaço flexível» como a mapdesign, explica: «em vez de quatro grandes nomes preferimos ter vinte pequenos, dando-lhes espaço para crescer. é um desafio difícil, porque no fundo nós também somos pequeninos…»
mapdesign; rua rosa damasceno, nº17 a lisboa; tel. 218 490 019; www.mapdesign.pt