susana ribeiro tem 30 anos, mas não sabe sequer por que se comemora a páscoa. os pais são casados, mas não pela igreja, e não é baptizada. para ela, a páscoa significa «ovos de chocolate, coelhos e amêndoas».
no que respeita a tradições, em sua casa, «nunca se fez o tradicional almoço de domingo de páscoa». e só sabe que a data está próxima quando nos supermercados surgem amêndoas nas prateleiras.
mas, se por um lado há quem não dê especial atenção a esta quadra e aproveite os dias de férias para viajar para a neve ou a praia, por outro, há quem a considere uma das festas mais importantes do ano, que deve ser comemorada em família.
maria teresa matos tem 17 anos e desde sempre que se lembra da páscoa passada em casa. «é o momento em que se celebra a ressurreição de cristo, é um momento específico de reflexão sobre o facto de jesus ter dado a vida por nós», explica esta estudante que, nesta época, participa em celebrações como vigílias ou noites de oração.
católica, assume a páscoa como o tempo ideal para fazer promessas, «baseadas em três ‘p’, de pequeno, pouco e possível». e esclarece que faz pequenas coisas como «não consumir doces, sumos ou pastilhas, e não sair muito à noite».
isidro pereira lamelas, padre franciscano, conhece a realidade pascal de perto e defende que se o natal é a festa da família, a páscoa é a festa da igreja, admitindo, porém, que «o natal como celebração e vivência popular generalizada se tem sobreposto à páscoa». e se há quem comemore esta quadra com grande rigor, existem tradições que se vão perdendo.
«se, para um cristão comprometido, não há domingo sem missa, nem páscoa sem ‘desobriga’ [confissão] e missa de domingo pascal, sobretudo nas cidades, têm-se vindo a perder algumas das vivências litúrgicas e populares». e dá o exemplo do minho, onde ainda se celebra a páscoa na rua com «foguetes, flores e folares a acolher o compasso, ou seja, cristo ressuscitado que anda de casa em casa a abençoar os lares». noutras zonas, acrescenta, «o entusiasmo não vai muito além das amêndoas e do pão-de-ló».
prova desse desprendimento em relação à páscoa é também o entendimento que as pessoas fazem da mensagem da igreja. o padre diz que a teologia defende que ‘o natal sucedeu num dia de uma vez por todas’, «mas o povo entende como ‘o natal é todos os dias’». já sobre a páscoa, está escrito que «‘é quando deus quiser e é, por isso, todos os dias’, mas as pessoas dizem antes ‘o natal é quando o homem quiser e a páscoa é uma vez ao ano’».
enquanto o natal começa a ser comemorado cada vez mais cedo, a igreja ensina que a páscoa se prolonga por 50 dias e todos os domingos do ano. mas, para a maioria dos portugueses, «ela acaba cada vez mais cedo».