as associações do sector alertam: «se 2011 vai ser mau, 2012 será ainda pior». os sinais são diversos. desde junho que as vendas no mercado nacional são das que mais recuam na europa, com perdas a rondar os 30%. esta semana, o salão internacional do automóvel – maior evento do sector em portugal, que se iria realizar entre 4 e 13 de novembro, em lisboa – foi cancelado face ao «significativo agravamento» da situação do mercado, segundo associação automóvel de portugal (acap).
o abrandamento no sector é especialmente preocupante devido ao seu peso na economia: envolve um volume de negócios de 15 mil milhões de euros anuais, quase 10% do pib, e é o maior contribuinte para a receita fiscal, pesando 20% do total – uma valiosa ‘fonte’ para o estado em tempos de crise.
na última recessão em portugal, ocorrida em 2009, as vendas de ligeiros de passageiros (que representam quase 85% do mercado em unidades) registaram aquele que foi até agora o pior ano do último quarto de século: desceram 24,5%, para 160 mil unidades, o valor mais baixo desde 1987. com a economia de novo em recessão – o pib deverá contrair mais de 2% em 2011 e 2012 – a situação deverá ser ainda pior.
ainda que as vendas acumuladas de janeiro a setembro deste ano (123,5 mil unidades e uma descida de 23,5% face ao homólogo) sejam superiores às de 2009 (100,7 mil unidades), as mensais, desde julho – quando as primeiras medidas da troika foram anunciadas –, têm vindo a cair a pique face a 2010 e estão muito abaixo do registado nos mesmos meses em 2009.
pior do que o esperado
estes dados levam as associações do sector a estimar que 2011 será o pior ano de sempre, com quedas nas vendas que poderão superar os 30% face a 2010, contra a descida de 20% inicialmente estimada no início do ano. a venda de ligeiros em 2011 poderá mesmo ficar abaixo da barreira dos 160 mil unidades – o último mínimo histórico, alcançado em 2009 –, depois de mais de 20 anos com vendas acima ou muito próximas dos 200 mil veículos, segundo dados da associação nacional das empresas do comércio e da reparação automóvel (anecra). em 2010 venderam-se 223 mil ligeiros, e em 1999 quase 300 mil.
jorge nunes da silva, secretário-geral da anecra, descreve a situação como «muito grave» tanto no segmento dos veículos novos como nos usados. nunca se tinha visto «um mês tão mau» como o de agosto, quando se venderam oito mil ligeiros, menos 2,5 mil face ao homólogo, afirma. e neves da silva diz que 2012 «será ainda pior do que 2011», porque as famílias estarão «sem rendimentos e sem crédito».
a escassez de dinheiro e de financiamento vai impossibilitar, ainda em 2011, o fenómeno de antecipação de compra no final do ano devido ao aumento de impostos no ano seguinte, que poderia reduzir as perdas, adianta ao sol, hélder pedro, secretário-geral da acap. para 2012 está previsto o aumento do isv e o fim de algumas isenções para o segmento dos comerciais ligeiros que afectam sobretudo as pequenas empresas.
hélder pedro critica a crescente carga fiscal sobre o sector que mais receita dá ao estado, lembrando que ela já representa quase 50% do preço final de um automóvel, um dos valores mais altos na europa. neves da silva alinha pela mesma nota e salienta que o sector é «historicamente» dos mais apetecíveis quando os governos querem aumentar receitas fiscais. resultado: vários anos de aumento de carga fiscal tornaram o mercado «uma galinha de ovos de ouro que já nem ovos põe». com a descida das vendas, as receitas do isv estão já a recuar mais de 20%. junho foi, aliás, o mês em que a receita de isv atingiu mínimos dos últimos cinco anos, tendência que se deverá agravar ao longo do ano. até junho, os cofres públicos arrecadaram 370 milhões de euros em isv, contra 414 milhões no homólogo e 341 milhões em 2009. a_anecra refere que em 2012 «os automóveis estarão mais caros e os bolsos das famílias mais vazios».