a realidade é denunciada por josé manuel anes, presidente do observatório de segurança, criminalidade organizada e terrorismo (oscot), ao comentar os violentos casos ocorridos no algarve e que envolveram um inglês torturado, violado e amputado e o recente espancamento brutal de liberto mealha, empresário da noite algarvia – que foi surpreendido na semana passada ao chegar a casa por quatro encapuzados, tendo sofrido fortes golpes no rosto e nos olhos.
anes adianta que «a violência extrema é uma característica da nova criminalidade». segundo o especialista, a violência está ser usada para «manietar e dominar as vítimas», mas também para ‘dar recados’ aos próprios grupos, imitando o que sucede nas máfias em itália e na china. «funciona como um sistema de aviso aos outros membros do gangue».
o presidente do oscot nota que foi com grupos vindos do leste da europa que começou o aumento da violência com as vítimas. isto apesar de, também já haver portugueses a utilizar estes métodos mais violentos.
segundo apurou o sol junto de fontes policiais, muitos dos gangues violentos que operam no algarve são mesmo da europa de leste e envolvem tráfico de droga, armas e prostituição. e muitos já agem com rituais semelhantes aos das máfias, como corte de dedos e outras torturas.
o gangue é como «uma família»
«ao torturarmos uma pessoa estamos também a mostrar aos outros o que lhes acontece se forem desleais», explicou ao sol o elemento de um gangue que opera no algarve e que admite fazer torturas para «sacar informação» aos traidores.
joão paulo (nome fictício) chegou a portugal há mais ou menos cinco anos, instalou-se perto de faro e entrou para um uma organização terrorista que trafica droga, armas e mulheres. admite que já matou e torturou algumas pessoas: «nem sempre matamos a pessoa. muitas vezes é para dar uma lição», explica.
para ele, o gangue é como «uma família»: «aquilo que sentimos uns pelos outros é idêntico ao sentimento que temos pela família. e temos de confiar mais no nosso parceiro do que na nossa mulher».
joão paulo revela que na «família» não existe um código de tortura. cada um tem o seu método: «pode cortar-se uma orelha, uns dedos dos pés ou das mãos, queimar com cigarros, partir os pés, dar um tiro nas pernas. eu pessoalmente prefiro sempre coisas que não metam muito sangue. mas a informação tem de sair cá para fora».
depois da tortura segue-se o julgamento. é o chefe quem decide os passos a dar e preside ao «julgamento». «damos as informações da tortura. e depois ele diz o que fazemos», refere. «se for para mandar embora, manda-se. se for para fazer outra coisa, faz-se», sublinha, enquanto ajeita a camisa de xadrez e o colete quispo azul-escuro da marca duffy.
joão conta que o gangue a que pertence se dedica ao tráfico de droga e armas e está ligado também ao ramo da prostituição. «não temos meninas escravas, não pensem», avisa, acrescentando que as armas e a droga vêm de «todo o lado». até de portugal, «numas plantações boas ali na zona de monchique».
as zonas de tráfico estão pré-definidas pelos diversos gangues espalhados pelo algarve. «cada um sabe onde pode trabalhar», afirma. o moldavo diz ainda que os portugueses são cada vez mais uma minoria na criminalidade praticada no sul do país. casado e pai de filhos, joão confessa que a mulher «não faz ideia» da sua profissão. «a comida chega a casa, temos dinheiro para coisas que no nosso país não tínhamos. a minha função é sustentar a minha família».