Globalização — um mal ou um bem?

A globalização tornou-se num dos assuntos ou temas mais prementes do nosso tempo. A liberdade das trocas, ou comércio internacional, favoreceu o crescimento económico dos países, de modo que, graças a ela, milhões de pessoas no mundo passaram a viver mais anos e a beneficiar de níveis de vida, sensivelmente, mais elevados.

Todavia, para muitos dos habitantes dos países menos desenvolvidos, a globalização não trouxe os benefícios esperados e, em alguns casos, agravou mesmo a situação de pobreza em que viviam.

No livro ‘Globalization, what’s new?’, David Dollar ocupa-se da forma como a globalização tem afectado, tanto os países ricos como os países pobres, mostrando que produziu uma redução sem precedentes do grau de pobreza mundial, mas aumentou também o nível de desigualdade entre países e dentro dos países.

O que fez com que o fenómeno da globalização, que teve resultados tão benéficos, se tenha tornado um tema controverso. Como explicá-lo? Há várias explicações.

E uma delas esteve no facto de os países ocidentais e mais desenvolvidos terem exigido a liberalização do comércio para produtos que exportavam e depois terem protegido sectores em que a concorrência dos países em desenvolvimento, nomeadamente na agricultura e nos têxteis, podia ameaçar as suas economias.

E não foi só isso. Um dos problemas da globalização está no facto de não haver um governo à escala mundial, que controle o processo de globalização de forma semelhante àquela que os governos nacionais adoptam para gerir o processo interno das suas economias.

Há, sim, instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio e o Banco Mundial, que procuram regular o processo de globalização, mas com deficiências na sua actuação.

No seu livro ‘Globalização, a Grande Desilusão’ o Prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, é extremamente crítico, especialmente da acção do FMI.

A filosofia de base do FMI que, segundo Stiglitz norteia a sua actuação, é a da ideologia do mercado, não se admitindo que este também tenha falhas. O que não é exacto, especialmente em áreas como as do ambiente, da saúde pública, da investigação e da segurança, em que, com frequência, o mercado não conduz a resultados eficientes, impondo-se a adopção de medidas governamentais que corrijam as suas deficiências.

O problema não está na globalização em si, mas na forma como ela tem sido gerida. De uma maneira geral a globalização revelou-se benéfica nos países que souberam tirar partido dela, conseguindo novos mercados para as suas exportações e atraindo o investimento estrangeiro. E foram, sobretudo, os países que tomaram nas mãos as rédeas do processo de globalização, com o Estado a tomar as medidas necessárias para o conseguir, que dela mais beneficiaram.

Professor

Católica Lisbon-School of Business and Economics