O Plano de Cinema

Há dias, o jornal Público decidiu inventar um inquérito a dez personalidades para saber que filmes (portugueses e estrangeiros) escolheriam para mostrar aos alunos entre os 7.º e o 12.º ano, ao abrigo de um Plano Nacional de Cinema (PNC) que o Secretário de Estado da Cultura decidiu lançar nas escolas e que seria o…

não vou comentar, por razões que facilmente se entendem, a escolha dos filmes portugueses que resultaram das votações, nem me parece importante sequer discutir a escolha dos restantes filmes estrangeiros: gostos são gostos.

o que me pareceu surpreendente foi a futilidade do exercício. os que se prestaram a responder ao inquérito limitaram-se a fazer a lista previsível dos seus filmes preferidos, deixando de lado uma questão que deveria inevitavelmente ser equacionada se quisermos perceber a pertinência do pnc: qual é o objectivo que se pretende atingir ao mostrar a alunos entre os 11/12 e os 16/17 anos, uma série avulsa de filmes portugueses e estrangeiros? é essa a questão, aliás, que muito justamente colocou isabel alçada, uma das que se recusaram a entrar neste exercício lúdico, tão arbitrário como inútil. disse ela: «um plano não pode ser só uma lista, além de que esta é sempre reducionista», acrescentando justamente que o catálogo deve ser organizado por especialistas que «conheçam os programas pedagógicos e educativos».

o que se pretende ao mostrar filmes nas escolas, a alunos que, hoje, têm à sua disposição, de forma indiscriminada, milhares de horas de ficções audiovisuais que lhe moldam os gostos e deformam a visão crítica? ensinar-lhes a história do cinema, como parece pretender francisco josé viegas? fazê-los aprender a apreciar os clássicos e a analisar um filme? mostrar-lhes filmes que ajudem a complementar os programas pedagógicos e educativos? ou ajudá-los a interpretar o mundo através dos filmes? são coisas muito distintas, e a escolha dos filmes a mostrar, se a ideia for por diante, dependerá totalmente da resposta a estas questões, coisa que, aparentemente, nem o inquérito do público nem os que lhe responderam tiveram em conta. uma boa ideia pode ser destruída por opções irreflectidas.

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