Evitar o vórtice

Estive fora de Portugal uma semana, no outro lado do Mundo. Foi a semana das comunicações desastradas, das entrevistas pouco esclarecedoras e da preparação das enormes manifestações populares, com que me confrontei no dia do meu regresso.

numa semana, pareceu-me que tinha mudado de país. mais grécia e menos portugal. certamente menos irlanda. não pela paralisia e incapacidade de decidir. antes pela crispação social e pelo espectro de crise política eminente.

nestas alturas a serenidade é fundamental. jamais podemos perder vista o que está em jogo – o ser capaz de viver e prosperar no seio da moeda única europeia. apesar de indignados, devemos saber resistir à tentação de contar mãos no ar, a favor ou contra: afinal as maiorias da rua ou da imprensa não têm necessariamente razão.

por maioria de razão, políticos e comentadores com responsabilidades no actual estado das coisas devem fazer um esforço de contenção. mas quem decide também deve valorizar a paz cívica. pensemos, então, com serenidade sobre a situação, as medidas e as alternativas.

portugal enfrenta dois problemas muito difíceis: reduzir os níveis de endividamento – sem o que não poderemos permanecer no euro –, e combater o desemprego, sem dispor de muitos instrumentos para tal, nomeadamente a desvalorização cambial. a decisão do tribunal constitucional (tc) tornou o caminho mais estreito.

por outro lado, a redução da tsu a cargo das empresas promove a criação de emprego. o equilíbrio orçamental obriga ao financiamento deste corte. o financiamento pelo aumento da tsu paga pelos trabalhadores atenua, mas não anula este efeito.

mas antes de se julgar algo bom ou mau convém pensar nas alternativas. se nada fizermos, o desemprego continuará a aumentar, provocando uma inexorável queda dos salários . a perda de rendimento pelos trabalhadores ocorrerá sempre, só que acompanhada de mais desemprego. promover o emprego pela despesa pública afasta-nos do euro, com consequências calamitosas para todos em especial os mais desfavorecidos.

a verdadeira questão é, pois, quais as políticas alternativas mais justas e compatíveis com o acórdão do tc. e, já agora, que também assegurem a permanência no euro. não existem muitas certamente.