Com o aumento da população mundial dos actuais sete mil milhões de habitantes para nove mil milhões, em meados do século, receia-se que venham a verificar-se carências significativas de água em vários países e regiões – se é que essas carências não vão verificar-se antes de 2050, havendo já casos de insuficiência de água potável para o consumo das populações.
Isto implica a necessidade de uma gestão eficiente da água, que nem sempre se verifica, como mostra um relatório da consultora britânica MAPLECROFT que procedeu ao estudo e avaliação da procura e oferta de água em mais de 160 países. E verificou que mais de um sexto da população mundial não tem assegurado o acesso à água potável de que necessita para o seu consumo.
A água em si, e sem mais, não tem faltado na grande maioria dos casos. Mas o mesmo não pode dizer-se da água potável, requerida pelo consumo das populações. Com efeito, apenas cerca de 3% da água existente no planeta é água doce disponível para consumo.
Uma parte muito importante dessa água é necessária para a agricultura que, de acordo com os dados disponíveis, já absorve cerca de 70% da água doce disponível no planeta.
A falta ou insuficiência dessa água também tem consequências sérias, porque afecta a produção de produtos alimentares e os respectivos preços.
Além de outras regiões do globo, a carência de água afectará também as populações da Europa Central e da Europa do Sul, atingindo-nos a nós, se não formos capazes de fazer uma gestão eficiente da água de que dispomos.
Em Portugal, há vários exemplos de um caminho bem percorrido no uso da água, como no caso do Alqueva. Mas também há perdas de água muitos significativas, porquanto, se os dados de que dispomos estão certos, durante o caminho percorrido entre as fontes de água potável e as torneiras onde ela é recebida perde-se cerca de 40% da água tratada.
Outra deficiência está na disparidade de preços no fornecimento de água entre municípios, tendo em conta que o preço pago pelo consumidor é um elemento importante da gestão da água e do seu consumo. E, embora essa diferença de preços tenha vindo a esbater-se ultimamente, a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) é da opinião que continua a existir uma disparidade de preços nas tarifas dos serviços de água e resíduos injustificada.
O crescimento da população mundial e as alterações climáticas são hoje reconhecidos como os principais desafios ambientais que a humanidade tem de enfrentar na próxima década, sendo a água o recurso chave em causa. E não podemos ignorar esses desafios e dar-lhes resposta, sem que venhamos a sentir as suas consequências no abastecimento da água. É assim essencial que, também entre nós, sejam desde já tomadas medidas para o uso o mais eficiente possível da água doce.
Professor, Católica Lisbon-School of Business & Economics