o parlamento criou, por decisão absolutamente legítima e democrática, uma comissão para discutir a reforma do estado. o que se quer é identificar a origem de problemas estruturais e eliminá-los de raiz, para construir um estado sustentável para os cidadãos e para as gerações futuras. mais do que isso, quer-se debater com todos os partidos representados na assembleia da república essas opções políticas. a bem da democracia, do diálogo democrático e do futuro de portugal. numa situação sem precedentes, os partidos da oposição recusam participar nesta discussão. não foi dada posse à comissão.
será que, para a oposição, as dificuldades dos portugueses só servem para alimentar discursos políticos inflamados? será que o ‘interesse nacional’ é só uma bandeira que se agita quando dá jeito, uma expressão idiomática a que se recorre, com frequência, em manobras demagógicas e populistas?
não quero acreditar que assim seja. mas não posso, perante os factos, ignorar conjecturas sobre a real importância que a instabilidade do país e os esforços dos portugueses têm para os partidos da oposição. e não posso deixar de temer que a tendência para desafiar os princípios democráticos se torne um hábito. aceitar este precedente é aceitar um regime aristocrático conduzido pelos ’grandes senhores’ da oposição.
portugal precisa de uma oposição que não se deixe condicionar pelo calendário eleitoral, pela agenda noticiosa e pelo medo de descer no barómetro da popularidade. imune a estratégias tacticistas centradas apenas em chegar, o quanto antes, ao poder.
o poder exige coragem e responsabilidade.
se tivesse de escolher uma palavra que definisse o que mais precisamos, seria precisamente coragem. coragem para tomar decisões difíceis, impopulares, mas necessárias para ultrapassar a situação em que nos encontramos. coragem para assumir os compromissos, para não fugir ao debate sobre as reformas estruturais, para colocar o interesse nacional acima de diferenças ideológicas e à prova de chicanas políticas. coragem para escolher o caminho da responsabilidade, colaborar, fazer parte da mudança que se impõe para salvaguardar as gerações futuras.
portugal precisa de quem se dedique a uma causa maior do que as suas pretensões pessoais, que esteja acima de querelas e disputas partidárias e que queira contribuir positivamente para a resolução estrutural dos problemas.
subverter as regras democráticas é um malabarismo perigoso e não dignifica uma oposição responsável.