Recep Erdogan

Os dez anos de enorme desenvolvimento económico da Turquia e a pacificação em curso da região curda conferiram a Recep Tayyip Erdogan uma aura de grande líder. Um modelo para o MédioOriente e para os países muçulmanos.

Mas o primeiro-ministro parece não ter emenda. O seu estilo truculento, intimidador e arrogante pode servir para momentos de grande dramatismo ao nível das relações internacionais (como quando arrasou Shimon Peres em Davos) e tem funcionado na perfeição para atrair o eleitorado rural e conservador – que lhe concedeu três vitórias, a última quase de 50%. Boa parte destes turcos, ao que contam as reportagens, pouco ou nada mudará de ideias quanto ao basbakan.

Mas a clivagem foi feita com a outra metade do eleitorado. Os jovens das cidades não se revêem num homem que diz que o Twitter e as outras redes sociais «são a pior ameaça à sociedade». Que desata a insultar ambientalistas e depois centenas de milhares de turcos que saíram às ruas em ira. E perante um caso óbvio em que o interesse público foi esmagado pelo lobby do betão, é o próprio a dar a cara pela iniquidade de arrasar o parque Gezi e a desafiar mais uma vez os concidadãos, ao reafirmar que o projecto irá avante.

A firmeza é um dos predicados deste homem, a cara de uma série de reformas que transformaram a Turquia numa potência regional. Mas os 11 anos no poder e os 50% de eleitorado a que alude sempre que é confrontado tê-lo-ão deixado encandeado – ao ponto de atirar a lira turca e a Bolsa para níveis preocupantes após as suas declarações.

Ao não mostrar capacidade para o compromisso nem para a autocrítica, começa a ser posto em causa o seu plano de concorrer a Presidente em 2014 após uma mudança legislativa que transforme a Presidência num cargo executivo. E o sonho de levar os Jogos Olímpicos a Istambul em 2020 pode ter-se esfumado.

C.A.