exemplo maior foi a actuação de asif ali khan. a aparente simplicidade da música do paquistanês e dos oito músicos que o acompanham (voz, harmónio e tablas, a percussão típica do subcontinente indiano) pode ter enganado os incautos por alguns minutos, mas rapidamente se renderam ao caudal encantatório que jorrava do palco.
meia dúzia de composições chegaram para deixar o povo fã da tradição qawwali. e, para os veteranos no festival, recordar a passagem dos marroquinos master musicians of jojouka. ambos se inscrevem na tradição sufista do islão, e é fácil perceber porque são odiados pelos talibãs e demais barbudos desprovidos de sentimentos humanos. é uma música que nos soa a um tempo exótica e próxima, como se estivesse escondida algures no nosso adn.
antes, foi a vez de rokia traoré conseguir surpreender quem já a tinha visto nas outras duas passagens pelo fmm. a maliana tem novo disco e apresenta-se agora em palco com uma formação semi-africana, semi-europeia. ao longo do concerto sobrepôs-se a facção europeia (bateria, guitarra e baixo) aos coros e à guitarra típica, o ngoni.
mas desengane-se quem creia que rokia se tenha vendido a uma espécie de afro-pimba. este meio metro de gente é gigante – seja a cantar, seja a dançar – e atreve-se a iniciar a actuação de forma plácida, a terminá-la com uma canção melancólica (‘gloomy sunday’, popularizada por billie holiday), e pelo meio dizer ao público ‘vocês não são nada’, em referência à nossa passagem efémera pelo mundo. e entre o início e o fim, muito talento e inspiração que levou o público a mexer as articulações.
articulado, seguro e coeso são adjectivos que nos assaltam quando recordamos o regresso a sines de carlos bica e do seu trio azul. abriram a noite no castelo com mais uma actuação de grande nível do contrabaixista português e dos seus companheiros, o guitarrista alemão frank mobus e o baterista norte-americano jim black.
após asif ali khan, já no palco da avenida vasco da gama, os ondatrópica conseguiram o feito de manter o público em festa até às 4h. também é verdade que os ritmos afro-latino-caribenhos da formação colombiana só não contagiam quem caiu pela exaustão ou pelos excessos. ‘arriba, arriba, sines!’, puxava a cantora nidia gongora, no início, aos mais cépticos. o casamento entre gerações em palco resultou num reavivar de composições antigas, fazendo jus ao nome do conjunto.
num cancelamento de última hora, o mago da percussão trilok gurtu, que seria o centro das atenções desta noite, não estará presente. em sua representação vem o pianista arménio tigran hamasyan, considerado um jovem prodígio pela crítica.
completam o cartaz os gaiteiros de lisboa (18h30), winston mcanuff & fixi (20h), rachid taha (23h15), shibusa shirazu orchestra (0h45) e bomba estéreo (2h45). os dois primeiros e o último concerto são de entrada livre.
[actualizada às 20h08]