ridículas são também as filas intermináveis à entrada do castelo, graças a um zelo incompreensível da gnr. as revistas a que submetem os espectadores por causa de ‘objectos cortantes’ é um empecilho incoerente (porque não o fazem no concerto diurno do castelo, nem nos da avenida vasco da gama) e um ‘atentado à privacidade’ de cada espectador, como afirmou carlos guerreiro, a meio da actuação dos gaiteiros de lisboa.
o vocalista só foi mais aplaudido quando se lhe cantou os parabéns, um momento musical acompanhado a gaita de foles. um exemplo, se preciso fora, da inventividade com que o grupo recria o tradicional, servindo-se de uma miríade de instrumentos e letras afiadas, como a de ‘avejão’, do mais recente álbum, os gaiteiros foram a entrada perfeita.
mas se os gaiteiros já são velhos conhecidos e só surpreendem o público estrangeiro, o resto da noite foi uma surpresa.
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foi feliz o encontro do cantor jamaicano winston mcanuff e do acordeonista e pianista francês fixi. até porque como ponto de ligação entre kingston e paris estava a caixa de ritmos humana chamada markus (marc ruchmann, que também é actor), que por vezes transportava o duo para territórios mais próximos do hip hop.
dizer que o regresso de rachid taha ao fmm foi sóbrio seria apenas um trocadilho, tendo em conta o estado etílico do franco-argelino de uma e outra vez. mas seria uma falta de rigor tremenda, porque taha é tudo menos sóbrio. é um rocker que canta em árabe, um provocador por excelência que tem um novo e muito interessante disco, ‘zoom’. ao vivo, a sua voz perde protagonismo para o alaúde e para os tradicionais instrumentos do rock, mas no fim de contas fez a festa.
o cancelamento de última hora do percussionista trilok gurtu — atrasos nas ligações aéreas — deixou sozinho em palco o pianista tigran hamasyan. o arménio aproveitou a oportunidade para maravilhar. começou pianissimo, para depois se atirar com todo o vigor, não só ao teclado, mas também à percussão, assobiando e usando a voz, fazendo loops e distorções que entravam e saíam do terreno do jazz, tocando no rock progressivo à la robert fripp. um one man show.
se o pianista arménio provou que se pode encher as medidas com um espectáculo a solo, os 26 artistas japoneses da shibusa shirazu orchestra foram a personificação da desmedida. dançarinos e performers, um pintor em criação, o chefe da orquestra que acirra o público e fuma de forma incessante, vídeos com o cantor e atleta, um balão em forma de anémona, tudo é megalómano. a arte total a que este grupo se devota vive de uma forte base jazzística, mas canibaliza todos os géneros musicais. um acontecimento. seguiram-se os colombianos bomba estéreo, mas a explosão sónica já tinha varrido sines.
o festival termina hoje, com o nigeriano femi kuti como cabeça de cartaz.
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