na segunda-feira, o presidente sebastián piñera encabeçou no palácio la moneda uma cerimónia oficial de comemoração do golpe à qual faltou a esquerda e seis dos nove candidatos às eleições presidenciais. o chefe de estado, que já reconhecera o papel dos “cúmplices passivos” do regime – a palavra ditadura é tabu para a direita chilena –, atirou para o poder judicial e para a comunicação social parte das culpas. e por fim alargou o leque de responsáveis: “há uma quota-parte de responsabilidade dos muitos de nós que podiam ter feito muito mais na defesa dos direitos humanos”, reconheceu. no entanto, acabou por justificar o bombardeamento ao palácio presidencial. “não foi repentino, surpreendente, mas o resultado previsível, mas não inevitável da agonia de valores da sociedade chilena”, considerou, antes de acusar o governo de salvador allende de ter “infringido repetidamente a lei e o estado de direito”.
a dois quilómetros de la moneda, no museu da memória e dos direitos humanos, a antiga chefe de estado michelle bachelet presidiu a uma evocação que contou com os ex-presidentes ricardo lagos e eduardo frei. bachelet, candidata às eleições de novembro pela aliança nova maioria (que junta democratas-cristãos, socialistas e comunistas), proclamou-se a sucessora de allende ao afirmar que “um país que nega o passado e que varre para baixo do tapete a história arrisca-se a defrontar-se com os mesmos erros”.
bachelet – cujo pai, general da força aérea, morreu preso – é a favorita às eleições presidenciais de 17 de novembro. prova de que a sociedade se mantém dividida, terá como rival evelyn matthei, também filha de um general da força aérea, mas que pertenceu à junta militar.