o que leva hollywood a apostar em fazer remakes? dinheiro fácil, claro. e em vez de as produtoras pegarem em guiões que copiam uma ideia daqui e outra dali, assume-se a falta de ideias. é mais honesto, mas tão surpreendente como o natal dos hospitais.
só que a ideia de encaixar dólares de forma preguiçosa não é uma garantia. a volta ao mundo em 80 dias (com jackie chan), a invasão (com nicole kidman e daniel craig), the wicker man – o escolhido (com nicolas cage) ou rollerball (com um elenco assustador) são apenas alguns exemplos de que nem tudo o que remake é ouro. e que os estúdios também perdem milhões ao não arriscarem na novidade.
novas versões há-as para todos os gostos. das que seguem o filme original com uma fidelidade pateticamente canina (como no caso de psycho, em que gus van sant imitou alfred hitchcock quase plano por plano) aos que se aventuram para uma readaptação. ficará a meio caminho a carrie de kimberly peirce. o original, rodado por brian de palma, rendeu mais de 45 milhões de dólares ao longo dos anos. sissy spacek e piper laurie não deixaram os espectadores indiferentes. trinta e sete anos depois, chega o sacrossanto remake.
carrie conta-nos a história de uma estudante que vivia numa redoma de fanatismo religioso criada pela mãe. na mesma altura em que lhe ocorre a primeira e tardia menstruação, carrie white descobre que tem o poder de mover objectos com a mente.
verdadeira adolescente
a patinha feia carrie é agora chlöe grace moretz. em relação ao original, temos agora uma verdadeira adolescente no papel da estudante tímida e vítima de bullying (spacek tinha 26 anos). apesar da tenra idade, chlöe já leva quase uma década a representar – e já deixou a sua marca, caso do papel em a invenção de hugo. aqui tem momentos, ora convincente, ora caricatural no exagero da composição da personagem.
a mãe de carrie, a desarranjada mental margaret, é protagonizada por uma irrepreensível julianne moore. quem também enche o ecrã é gabriella wilde no papel de sue snell, a arrependida colega de carrie.
por momentos, o espectador esquece que está a ver um filme de terror. na transformação da carrie inadaptada em carrie-rainha-do-baile fica-se com a enganadora sensação de que estamos perante um romance cor-de-rosa. contribuirá também o olhar da realizadora kimberly peirce, que realça a sensualidade das actrizes.
bullying actualizado
outra preocupação da realizadora foi a de actualizar a história: na famosa cena em que carrie é ridicularizada pelas colegas nos balneários, uma delas filma o que se passa no telemóvel e mais tarde partilha o vídeo online.
foi uma experiência nova para peirce, esta de aventurar-se no território do thriller e do terror. e não se saiu mal. mas na curta filmografia há pontos de contacto com carrie. quer em boys don’t cry – os rapazes não choram, quer em stop loss – negócio de sangue as personagens principais têm sérios problemas em lidar com a realidade.