Camaradas no grande ecrã

Até Amanhã, Camaradas é um romance de Álvaro Cunhal, publicado já depois do 25 de Abril sob o pseudónimo Manuel Tiago. Foi escrito na década de 50 durante o longo período em que esteve preso (1949-1960), primeiro na Penitenciária de Lisboa, depois no Forte de Caxias. Nesta época, apesar ou exactamente por ter passado oito…

o romance retrata ao longo de 400 páginas as histórias de vários militantes entre o ribatejo, lisboa e o alentejo, na organização do partido comunista e nas reivindicações pela melhoria das condições de trabalho, tendo como auge a organização de uma greve – e sofrendo em consequência a repressão do regime salazarista.

produzido por tino navarro, realizado por joaquim leitão e com argumento adaptado por luís filipe rocha, o livro foi transposto para televisão em 2005, em seis episódios de 50 minutos transmitidos pela sic. foi neste material que a equipa voltou a pegar, resultando daí o filme que se estreou nesta quinta-feira nos cinemas.

é uma produção cuidada, do guarda-roupa ao som, dos cenários à música, e não amareleceu com a passagem do tempo. o elenco, de a de marco d’almeida a w de gonçalo waddington (na foto), é competente e convincente e acolitado por um conjunto de pequenos papéis e de cameos, casos do próprio realizador e do produtor. e não é sem emoção que revemos actores já desaparecidos, casos de henrique viana e glicínia quartin.

como nota menos conseguida, a compressão dos seis episódios em três horas de filme. é certo que a história é um elogio à capacidade de luta e de resistência, mas é uma empreitada os 180 minutos, dos quais uma parte não assim tão pequena de discussões teóricas, mesmo para o maior entusiasta de álvaro cunhal e do pcp. uma tesourada sem censura e até amanhã, camaradas ganharia um ritmo e fluidez apreciáveis.

cesar.avo@sol.pt