ninguém duvida de que a primeira chefe de estado do chile (entre 2006 e 2010) vai regressar ao palácio de la moneda. tal como entregou a faixa presidencial ao sucessor sebastian piñera com uma taxa de aprovação estratosférica (84%), a sua popularidade mantém-se nos píncaros. regressada da liderança de uma agência das nações unidas, onu mulheres, verónica michelle bachelet jeria, de 62 anos, venceu as primárias com 73%. agora joga o prestígio internacional ao comprometer-se com a aprovação de 50 medidas nos primeiros 100 dias de presidência. o lema da campanha é ‘chile de todos’, uma sociedade que reduza as desigualdades. “é difícil haver estabilidade sem coesão social”, diz.
em relação ao primeiro mandato, prevê-se uma viragem à esquerda. a nova maioria, o bloco que bachelet lidera, inclui desta vez o partido comunista. nas eleições, nas quais também estão em jogo os 120 representantes para a câmara baixa e 20 dos 38 lugares do senado, concorrem líderes da contestação estudantil a piñera, como camila vallejo. um sinal muito claro, reforçado pelas medidas anunciadas, de que a educação é uma das prioridades.
investimento na educação
bachelet quer “uma grande reforma na educação”, que passa por tornar o ensino superior gratuito num prazo de seis anos (numa primeira fase pagando as propinas dos 70% de estudantes mais pobres), por construir universidades públicas fora de santiago e por mudar o modelo de gestão das escolas secundárias de forma a que o seu objectivo deixe de ser o lucro.
mas a candidata socialista saberá que as expectativas são altas e que os actuais líderes estudantis têm sido críticos em relação às suas intenções. “o chile mudou e vai ser mais difícil qualquer presidente governar. se não somos capazes de fazer as mudanças e as pessoas começam a tomar as ruas, não será responsabilidade apenas da presidente, mas de todo o sistema político, incapaz de responder aos desafios do chile”, afirmou.
para este esforço que custará mais 1,5 a 2% do pib anual, a equipa de bachelet conta canalizar dinheiro extra proveniente da reforma fiscal, outra das grandes mudanças preconizadas. a taxa de irc subirá de 20 para 25%, mas mais importante é o fim de um fundo (fut) criado para suspender os impostos a quem reinvestisse os lucros, mas que na prática permitia aos empresários não pagarem impostos. em jeito de compensação, os contribuintes com maiores rendimentos verão a carga fiscal diminuir de 40 para 35%.
resquício de pinochet
por fim, outra reforma central é a da constituição. a que vigora é de 1980, e tem a marca de pinochet. o mais anacrónico é o sistema eleitoral, uma vez que premeia a oposição com quase tantos lugares quanto os vencedores, dificultando a criação de maiorias e a possibilidade de instaurar reformas. é o que alguns analistas chamam de “empate perpétuo”.
no ano em que se comemoraram quatro décadas do golpe militar que derrubou o governo eleito de salvador allende, as tensões entre a direita pinochetista e o restante campo político voltaram em força. eclipsaram a figura de um presidente de centro-direita que acabou o mandato como exemplo de alternância democrática e de bons resultados económicos.
não ajudou o facto de entre os nove candidatos, a principal opositora chamar-se evelyn matthei. amiga de infância de michelle bachelet, os pais de ambos, generais da força aérea, tomaram rumos opostos. alberto bachelet acabou por morrer preso e torturado por uma junta militar à qual pertencia fernando matthei.
evelyn, que foi ministra do trabalho durante o mandato de piñera, surgiu como a inesperada candidata do bloco de direita, alianza. é que o pré-candidato favorito, o ex-ministro das minas e energia laurence golborne foi condenado pelo supremo tribunal e o vencedor das primárias, pablo longueira, renunciou, tendo a família alegado uma depressão. algumas sondagens dão evelyn a lutar pelo segundo lugar.