Mais de 100 chefes de Estado no último adeus a Mandela

Nem a chuva constante nem os atrasos nos transportes demoveram os milhares de pessoas que se concentraram no estádio FNB, em Joanesburgo, para prestar uma última homenagem a Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul, falecido na passada sexta-feira. Estiveram presentes mais de 100 chefes de Estado, membros da realeza e líderes…

durante o seu discurso o presidente dos eua, barack obama, recordou nelson mandela como “um gigante da história” e considerou o antigo presidente sul-africano “o último grande libertador do século xx”.

obama, que sempre considerou mandela uma inspiração, dirigiu-se aos milhares de presentes no estádio fnb para a homenagem ao antigo presidente sul-africano: “a sua luta foi a vossa luta, o seu triunfo foi o vosso triunfo, a vossa liberdade e a democracia que têm agora foi o seu legado”.

“mandela mostrou-nos o poder da acção; o poder de corrermos riscos por lutarmos pelos nossos ideais”, frisou obama, acrescentando que “foi necessário um homem como mandela para libertar não só os prisioneiros como também os próprios carcereiros”.

mais de 100 chefes de estado presentes

jacob zuma, actual presidente sul-africano, proferiu um dos últimos discursos da cerimónia. em 11 línguas, zuma recordou mandela como “único, um homem como nenhum outro”.

enquanto zuma discursava, o estádio fnb ia-se esvaziando, sendo que durante toda a cerimónia as bancadas do estádio nunca estiveram totalmente esgotadas. para além da chuva constante e dos atrasos registados nos transportes, o facto de o dia não ter sido declarado feriado também contribuiu para que uma grande parte das cadeiras estivesse vazia.

zuma terminou o seu discurso no mesmo registo que os anteriores chefes de estado: exultando o legado de mandela. “em 1994, madiba disse que a morte era algo inevitável. quando um homem cumpriu o seu dever para o seu povo pode descansar em paz. ele acreditava que já tinha cumprido essa tarefa. descansa em paz nosso pai e nosso herói”.

raúl castro, presidente cubano, evocou a visita de mandela a cuba em 1991: “jamais nos esqueceremos quando [mandela] nos visitou e disse que o povo cubano tem um lugar especial no coração dos povos de áfrica”. o irmão de fidel castro recordou o lugar que havana ocupou na luta contra o apartheid, ao lado do conselho nacional africano. “cuba transporta nas suas veias sangue africano”. o chefe de estado cubano descreveu mandela como “um símbolo da luta revolucionária pela liberdade e a justiça, a reconciliação e a paz”.

o presidente indiano, pranab mukherjee, também prestou uma última homenagem a mandela, descrevendo-o como “um ancião venerado, uma grande alma”, uma personalidade que os indianos “há muito admiram”.

li yuanchao, vice-presidente da república popular da china, descreveu mandela como “um velho amigo” do país. mandela visitou a china duas vezes: em 1992, como líder do congresso nacional africano, e em 1999, já na qualidade de presidente da áfrica do sul.

yuanchao considerou mandela uma figura com “um sorriso lunimoso”, acrescentando em inglês no final que “os seus pensamentos e o seu espírito vão viver”.

a presidente brasileira, dilma rousseff, também destacou o legado de mandela, considerando-o “um exemplo para todos nós” e “uma inspiração”. o antigo líder sul-africano tornou-se um “paradigma para todos os que lutam pela justiça, liberdade e igualdade”. “viva mandela para sempre!”, rematou dilma.

apesar de estarem mais de 100 chefes de estado presentes nas cerimónias fúnebres, há ausências a registar. uma delas é a do dalai lama que, segundo um porta-voz, se deve ao facto de não lhe ter sido autorizado um visto.

antes do discurso de barack obama, foi ban ki-moon que prestou homenagem ao antigo  presidente da áfrica do sul, falecido na passada sexta-feira.

o secretário-geral das nações unidas afirmou que mandela “odiava o ódio e não as pessoas, demonstrando uma enorme capacidade de perdoar”. ban ki-moon acrescentou que “o mundo perdeu um mentor” e que “é nosso dever manter a memória de mandela viva nos nossos corações e nas nossas vidas”.

para além dos chefes de estado e personalidades políticas presentes, também quiseram prestar uma última homenagem a madiba alguns nomes do universo musical, cinematográfico e televisivo. foi o caso de bono vox, vocalista da banda irlandesa u2, a actriz sul-africana charlize theron, a modelo internacional naomi campbell e oprah winfrey, entre outros.

jacob zuma vaiado, winnie mandela aplaudida

a cerimónia em homenagem ao falecido líder sul-africano começou com o hino nacional da áfrica do sul.

o actual presidente sul-africano, jacob zuma, foi vaiado aquando da sua entrada no estádio fnb. a vaia, vinda das bancadas onde se encontravam populares activistas contra o poder, surpreendeu os presentes no estádio.

mas as vaias não ficaram por aqui. zuma foi novamente vaiado quando o mestre-de-cerimónias o apresentou.

winnie mandela, ex-mulher do antigo presidente sul-africano, foi fortemente aplaudida quando entrou no estádio mas o mesmo entusiasmo não se fez sentir em relação a graça machel, viúva de mandela.

[actualizada às 16h07]

ana.castanho@sol.pt