em que livraria me estou a imaginar? há um ano, numa votação online, a bertrand do chiado foi eleita a ‘livraria preferida dos lisboetas’. com o devido respeito, não partilho dessa preferência – e até sou cliente. não lhe basta já ser a mais antiga do mundo, segundo o livro de recordes do guinness?
as livrarias que mais aprecio também não são necessariamente as mais bonitas. de cada vez que vou ao porto entro na lello & irmão para admirar a sua escadaria magnífica e subir ao primeiro andar. mas sempre a vi mais como uma jóia da arquitectura – ou, nos tempos recentes, uma atracção turística – do que como uma livraria. talvez por isso nunca lá tenha comprado um livro.
entre as livrarias que considero terem uma atmosfera especial, contam-se aquelas que frequentava nos meus tempos de estudante: a livraria francesa, hoje instalada na avenida luís bívar, a assírio & alvim do cinema king, num registo mais pós-moderno, e a buchholz, na duque de palmela. costumava passar horas e horas nesta última, depois das aulas, a apreciar belos – e proporcionalmente dispendiosos – álbuns de arte, grandes clássicos que só ali estavam disponíveis e sempre uma ou outra raridade. parecia que se respirava cultura. tal como, num registo diferente, ainda acontece na galileu, em cascais, onde um dia vi antónio lobo antunes e que tem uma cave que, para os amantes de livros, é uma espécie de caverna do ali babá.
actualmente tenho a sorte de trabalhar numa zona excepcionalmente bem servida. a fnac, nos antigos armazéns do grandella, tem uma oferta invejável de livros portugueses e estrangeiros – e isso faz com que, por mais que a visite, encontre sempre novos pontos de interesse nas suas prateleiras. um pouco mais abaixo, a férin – de origem belga – tem um certo sabor queirosiano, com os livros luxuosos guardados em belos expositores antigos.
acontece que, como disponho de meios limitados, só muito pontualmente posso comprar livros caros, pelo que tenho de procurar alternativas mais em conta. foi assim que descobri a livraria campos trindade, na rua do alecrim. visitá-la tornou-se um ritual que cumpro sempre com prazer. semana após semana, vou encontrando ali livros mais ou menos antigos a preços imbatíveis.
aprecio a patine, mas não sou fundamentalista, e por isso nunca tive problemas em frequentar as livrarias dos centros comerciais. algumas, é certo, só vendem os títulos mais óbvios e parecem-se demasiado entre si. mas outras conseguem libertar-se desse ‘estigma’. é o caso da almedina, no atrium saldanha, uma livraria com carácter e sempre bem abastecida; ou da pequena book house, ali ao lado, onde encontro títulos brasileiros que não estão disponíveis em mais lado nenhum. ao contrário de tantas pessoas que oiço a queixarem-se, não me repugna nada ler no português do brasil.