NINFOMANÍACA – VOL. 2
De Lars Von Trier, com Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard e Willem Dafoe
Se Ninfomaníaca fosse música não seria Rammstein e Bach, como se ouviu na primeira parte, ou Franck na segunda, mas Metallica e Lou Reed. Não em separado, juntos como em Lulu, incompreendido disco de 2011 que juntou o veterano grupo de metal com o rocker falecido há três meses: uma obra acre, dura, de uma liberdade sem cedências ao público ou aos críticos. E cujas letras de Reed podiam servir para descrever a solidão e a incapacidade para amar de Joe, a protagonista do filme, mas também a preferência pela acumulação de parceiros sexuais e a relação sado-masoquista que desenvolve com K (Jamie Bell).
No final do Volume 1, Joe revelara ao marido, Jerôme (Shia Labeouf), nada sentir durante as relações sexuais. Ao que o marido lhe concede carta de alforria para procurar prazeres carnais com outros homens (uma piscadela de olho a Ondas de Paixão). Mas a forma que Joe encontrou para voltar a ter prazer foi a submissão total a um desconhecido, K, que a descarna com uma chibata. Uma doentia relação que lhe devolve a sensibilidade, mas que lhe custa a família.
Das práticas masoquistas voltou a pulsão sexual que a faz perder o emprego – é uma proscrita da sociedade, como diz ao abandonar o grupo de terapia de adição sexual, e a afirmar-se uma convicta e orgulhosa (mas não feliz) ninfomaníaca.
A marginalização completa-se ao trabalhar, com sucesso, para L (Willem Dafoe), no negócio de cobranças difíceis. Como na metade inicial, Joe continua a contar o relato da sua vida ao confessor/psicanalista Seligman, o letrado judeu que, além da pesca, conhece o mundo apenas pelos livros – até o sexo – e que elucubra teorias risíveis sobre o drama da mulher que não acredita nos sentimentos, apenas nas sensações.
Mais negra que a primeira parte – até no humor, como por exemplo na revelação/êxtase/orgasmo que Joe sentiu em adolescente, ou na forma como descobre e sente uma ligação com um pedófilo não activo – a segunda parte de Ninfomaníaca é também mais conseguida. E o final, após tanta violência visual e psicológica, já sem imagens, é de uma contenção e coerência a toda a prova.
[YouTube:zIdah5Sved0]