Nesta sexta-feira, a meio da cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, será feita a assinatura da componente política do acordo de associação com a Ucrânia, com a presença do primeiro-ministro Arseni Iatseniuk. A associação económica é outro capítulo, ainda sem data para acordo.
Para já, e além dos tratados, rumarão para Kiev mil milhões de euros de assistência financeira. Bruxelas promete aumentar esse valor até 11 mil milhões, caso o Fundo Monetário Internacional e as autoridades ucranianas cheguem a acordo.
Em relação à Federação Russa, que desde terça-feira incorporou a Crimeia como república e Sebastopol como cidade federal, a estratégia europeia e norte-americana é ampliar as sanções a mais cidadãos russos (congelamento de contas e de viagens) e insistir no isolamento internacional. Um endurecimento de sanções – medidas financeiras e do sector da energia – apenas acontecerão se Moscovo apostar na desestabilização das regiões Leste e Sul da Ucrânia.
Mas, mais do que retaliar, a UE quer livrar-se da dependência energética em relação a Moscovo, uma estratégia que tem a concordância dos Estados Unidos. “Aprendemos da forma mais dura que a protecção da soberania das nações depende de ter mais do que um fornecedor de energia”, disse na quarta-feira o vice-Presidente Joe Biden, em visita à Lituânia.
Bratislava dá gás
A Ucrânia faz parte da comunidade da energia europeia, mas até agora não beneficiou desse estatuto. Até ao fim de Abril, porém, é de esperar que a Eslováquia chegue a acordo com a Ucrânia, revelou o comissário europeu da Energia, Guenther Oettinger. O objectivo é construir até ao final do ano uma infra-estrutura que envie até 10 mil milhões de metros cúbicos por ano de gás.
Mas não chega. É de esperar que também hoje o Conselho Europeu discuta a proposta britânica de desenvolver um gasoduto do Azerbaijão para a Europa, via Mar Cáspio e Turquia.
Uma outra estratégia, que está longe de merecer unanimidade, é a da integração europeia da Ucrânia. O comissário Stefan Füle é um ardoroso defensor: “Devemos empregar o instrumento mais forte de que a UE dispõe, que é o alargamento”. Mas há quem em Bruxelas considere este discurso precipitado e irrealista.
Indiferente ou aparentemente indiferente ao corrupio das chancelarias ocidentais, Vladimir Putin concretizou na terça-feira a anexação da Crimeia. Ou, como o Presidente russo fez questão de lembrar, trata-se de uma reunificação, após Brejnev ter entregue a península à Ucrânia em 1954. “Depois de uma longa travessia Crimeia e Sebastopol regressam à pátria”. Num discurso proferido no Kremlin antes de assinar o tratado de integração com os representantes da região e da cidade, Putin reafirmou que as novas autoridades ucranianas resultam de um golpe de Estado e que a Rússia limitou-se a reagir. “Os nossos parceiros ocidentais ultrapassaram os limites, comportaram-se de maneira grosseira, irresponsável e amadora”.
As imagens que correram mundo de deputados da extrema-direita ucraniana a agredirem o director da TV pública e a exigirem a demissão por este ter transmitido a cerimónia de Putin será mais um argumento a favor de Moscovo.
Quanto à legalidade da proclamação da independência da Crimeia, e tal como já esperava, Putin utilizou o exemplo do Kosovo.