O ideal do antigo agente do KGB recebeu na terça-feira uma estocada de Barack Obama. O líder dos Estados Unidos qualificou a Rússia de “potência regional”.
Apesar de ter vendido o Alasca aos Estados Unidos no século XIX, a Rússia é de longe o maior país do mundo: sem contar com a Crimeia, conta 17.075.200 km2 (Portugal tem 92.212 km2), e faz fronteira com 14 países e dois outros territórios reconhecidos pela Federação Russa, Abecázia e Ossétia do Sul.
A Crimeia é apenas a mais recente frente territorial em contenda com os vizinhos, da europeia Kalininegrado às asiáticas Ilhas Curilas. São mais as regiões ambicionadas pelos países fronteiriços do que o contrário, como se pode ver pelos exemplos ao lado.
O Árctico é uma região que a Rússia vai no futuro disputar com Estados Unidos, Canadá, Dinamarca e Noruega. As enormes reservas de gás e petróleo são alvo de cobiça internacional.
Mar Negro
Antes de retomar a Crimeia, Moscovo já tinha andado às turras com Kiev, em 2003, por causa do Estreito de Kerch (que liga o Mar Negro ao Mar de Azov) e pela soberania da ilha de Tuzla, entre a Crimeia e a Rússia.
A Oeste da Ucrânia, outra região deixa o comandante da NATO na Europa preocupado: a Transnístria. Segundo o general Breedlove, Putin prepara uma invasão a esta língua de território de facto independente da Moldávia, ex-república soviética. A Transnístria é russófona e conta com apoio de Moscovo.
Carélia e Báltico
A ‘questão da Carélia’ abarca ainda outros dois territórios, Petsamo e Salla, que foram anexados pela União Soviética à Finlândia nos anos 40. Um pouco à imagem de Olivença, o tema não faz parte da agenda do Governo finlandês.
Se com a Letónia e a Lituânia as fronteiras estão definidas, o acordo com a Estónia não foi ratificado por Moscovo: os russos alegam que o documento ratificado pelo Parlamento estónio dá azo a reivindicações futuras de território. Já o enclave de Kalininegrado é visto pelos russos como uma cidade apetecida por polacos, russos e lituanos.
Cáucaso
A Geórgia (país natal de Estaline) foi invadida por tropas russas em 2008 após a região separatista da Ossétia do Sul ter sido atacada. O Kremlin aproveitou para intervir também na Abecázia. As duas regiões – ao contrário do sucedido com a Crimeia – proclamaram-se independentes, estatuto reconhecido apenas pela Rússia e outros quatro Estados.
Outro território de facto independente é o Nagorno-Karabakh. De maioria arménia, este enclave é uma pedra no sapato do Azerbaijão, mas os russos dizem que qualquer ataque à região terá resposta militar.
Tuva
É a pretensão territorial mais caricata. A república de Tuva, situada na Ásia Central e na fronteira com a Mongólia, é ambicionada pelos nacionalistas chineses da Formosa (Taiwan). Tannu Uriankhai – assim era o nome dado pelos chineses – foi território da dinastia Qing do século XVIII ao XX, mas nos cinco séculos anteriores foi mongol.
Mesmo que no futuro chineses de Taipé e de Pequim se juntassem, é difícil de crer que um território que não é contíguo à China fosse pôr em causa o tratado firmado com Moscovo em 2004.
Ilhas Curilas
Ilhas vulcânicas e pouco povoadas, têm no entanto grande valor devido à actividade piscatória e às reservas de minerais. Como a vizinha Sacalina, já tinha sido motivo de guerra entre nipónicos e russos entre 1904 e 1905.
Para os japoneses as 56 ilhas são os Territórios do Norte. Foram ocupadas pela União Soviética em 1945 e os 17 mil japoneses residentes expulsos. O tratado de paz de São Francisco, assinado em 1951 entre o Japão e os Aliados, previa que Tóquio renunciasse aos territórios, entre os quais as Curilas. Tóquio reclama as duas ilhas e duas ilhotas mais próximas do território nipónico.