O quotidiano desta casa sem presença feminina é abalado com a chegada de Teddy (Ruben Gomes), o terceiro filho. Professor de filosofia numa universidade norte-americana, vem visitar o pai com a mulher e mãe dos seus filhos (ausentes), também ela uma londrina.
Para Jorge Silva Melo, o encenador de ‘O Regresso a Casa’, a oscilação de sentido é um dos factores distintivos desta premiada peça de Harold Pinter. “O que é muito interessante é que nós não sabemos quem regressa a casa. Na primeira meia hora pensamos que é um filho, que traz a mulher, mas na última meia hora já pensamos que quem regressa a casa é a mãe, a mulher, o lugar que ficou vago”, comenta.
Se o protagonista é Max – que num primeiro momento recebe a nora com insultos -, é Ruth (Maria João Pinho) quem se torna a figura central, ao desencadear um conjunto de reacções que põem a nu a amoralidade daquela família e a perversidade da própria. A este propósito, Silva Melo, que apoda Ruth de “personagem moderníssima e inquietante”, compara este regresso a casa com o Ulisses de James Joyce, pois quando o protagonista retorna encontra a mulher, Molly Bloom, “semiprostituta”.
A peça – uma comédia negra – estreou-se em Londres em 1965 e foi um grande êxito, tal como depois na Broadway, tendo sido coroada com um prémio Tony. No entanto, a forma como o público digere as várias adaptações tem variado. Afinal, Pinter leva-nos para uma zona de desconforto ao criar Ruth, personagem a um tempo dominadora e submissa, implacável e volúvel.
Proposta do director artístico do TNDM João Mota a Jorge Silva Melo para João Perry voltar como protagonista à casa em que se estreou (aos 12 anos), ‘O Regresso a Casa’ está em cena até dia 27.