As Nações Unidas já tinham feito saber que, caso as eleições corressem mal – depois de terem sido sucessivamente adiadas -, “sanções selectivas” seriam impostas àqueles que se colocassem no caminho da estabilidade do país: a torneira dos dinheiros internacionais pode fechar-se, o que se traduz em perda de poder. E ainda avisou que os militares sofreriam consequências caso “interferissem com o processo eleitoral ou o resultado da votação”.
Ao SOL, fonte de uma organização internacional no terreno explicou que no geral a população está “muito descrente”. “Aqui, há duas realidades: os políticos, que são tidos como corruptos, e os militares, que são os druglords. E há a população que, apesar de viver num país disfuncional onde há meses não se pagam salários e não se tomam decisões, já fica contente se tiver dinheiro para uma cervejinha e uma festa. Mas o problema não é haver ou não eleições: é o que acontece depois. Isso sim, é uma incógnita”.
Dos 1,6 milhões de guineenses, foram recenseados 95% dos eleitores previstos – 772.924, dos quais 20.107 estão na diáspora. Na quinta-feira, cerca de dois mil militares e membros das forças de segurança, mobilizados para o dia das eleições, já puderam votar antecipadamente.
O ex-ministro das Finanças José Mário Vaz (PAIGC), o empresário Abel Incada (PRS) e o independente Paulo Gomes são tidos como os mais fortes dos 13 candidatos a Presidente. O último “está a ganhar muita força entre as camadas mais jovens”. Se nenhum obtiver maioria absoluta à primeira volta, será necessário regressar às urnas com os dois mais votados. Às legislativas apresentam-se 15 partidos, que disputam 102 lugares.
Talvez um dos momentos mais susceptíveis da campanha tenha sido a morte, na semana passada, do ex-Presidente Kumba Ialá, que também era candidato em 2012, quando se deu o golpe de Estado. Mas passados os três dias de luto, a luta pelos votos continuou: “As pessoas saem à rua em carros quase alegóricos, contratam miúdos para vestir camisolas, atirar flyers a gritar, cantar e dançar. Todos os partidos têm festas e bares”, relata a mesma fonte ao SOL.
Entre as maiores expectativas que recaem sobre o próximo Chefe do Estado guineense estão as capacidades para anular a influência dos militares no poder político e de combater o tráfico de droga. A Guiné-Bissau é uma plataforma para o narcotráfico entre a América do Sul e a Europa. E é ainda o país onde, desde 1980, se sucederam meia-dúzia de golpes e de tentativas de golpe de Estado. Até hoje, nunca uma legislatura presidencial se concluiu.