A declaração dada ao Observer diz respeito a Magia ao Luar, o filme em estreia comercial que marca o seu regresso à digressão europeia (Inglaterra, Espanha, Itália e França) iniciado em 2005 com Match Point e apenas interrompido no ano passado com Blue Jasmine, rodado em São Francisco. Na oitava película filmada no velho continente, o actor britânico Colin Firth interpreta um mágico incrédulo e perfeccionista que é convidado a desmascarar uma jovem espírita (Emma Stone), de origens operárias, a causar furor entre a elite da Riviera Francesa. Quando a conhece, no entanto, o ilusionista vê o seu racionalismo mordente desvanecer… Haverá afinal vida depois da morte? Será descabido o seu negrume existencial?
Apesar de não conter a autocomiseração dos habituais alter egos de Allen, a personagem de Firth mantém a inquietação perante a morte e o casamento recorrentes na obra do realizador nova-iorquino. Também o fascínio pela magia, presente em filmes como A Maldição do Escorpião de Jade (2001) e Scoop (2006), a década de 20, já recriada em Meia-noite em Paris, a alta burguesia e a escalada social, motes do aclamado Blue Jasmine, caracterizam o pano de fundo de Magia ao Luar.
Filho de uma joalheira e de um empregado de mercearia, o cineasta que antes de o ser passara horas a treinar truques de ilusionismo, já assumira com Manhattan (1979) ter construído a imagem daquela cidade do ponto de vista de uma classe alta: “Onde cresci não havia penthouses. Ninguém misturava martinis nem fazia saltar rolhas de garrafas de champanhe, nem ninguém tinha telefones brancos. Essas coisas eram de filmes de Hollywood”.
Mistura de ingredientes dos filmes anteriores, incluindo a imagem de postal em tons dourados captada em 35 mm pelo reputado director de fotografia Darius Khondji, Magia ao Luar suscitou críticas mornas. Sem a contundência de Blue Jasmine, que valeu a Cate Blanchett o Óscar para Melhor Actriz, a fantasia de Meia-noite em Paris (até hoje o seu mais rendoso filme) ou o twist memorável do londrino Match Point, o novo filme de Allen surpreende sobretudo pela aposta em Colin Firth. Firme no jogo entre cepticismo e romantismo convocado pela sua personagem elegante, o vencedor de um Óscar pelo papel principal em O Discurso do Rei destaca-se nesta comédia bem resolvida, mas talvez a mais bem-comportada que vimos de Allen desde há muito.
Já a trabalhar no próximo título, onde Emma Stone e Joaquin Phoenix são nomes confirmados, o realizador admitiu que “é difícil encontrar uma história com um bom início, meio e fim que entretenham a audiência”. A premissa que o faz rodar um filme por ano desde 1966, salvo duas excepções, parece no entanto manter-se: “Se continuar a trabalhar, acho que é possível que um dia faça um bom filme por acidente”.