Iraque: xiitas mantêm-se no poder

Haider al-Abbadi foi nomeado pelo parlamento iraquiano o novo primeiro-ministro do país, esta segunda-feira.

Iraque: xiitas mantêm-se no poder

A remodelação do governo era vista como fundamental, por parte dos EUA e dos aliados, para se conseguir travar o Estado Islâmico (EI). “Os EUA andarão ombro a ombro com o Governo iraquiano e com o seu povo, para se encetar um plano agressivo de combate ao EI e à sua ideologia assassina. O EI é um inimigo comum e os EUA estão dispostos a cooperar, ainda mais, com as tropas iraquianas”, afirmou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, após esta nomeação. 

A representação das várias etnias e facções religiosas no governo, principalmente os sunitas, é encarada como um passo fundamental para a estabilização política do país. O novo Governo não é contudo muito heterogéneo no que concerne à divisão de poderes entre as principais divisões do país (xiitas, sunitas e curdos). Seis dos 11 membros do novo Governo (ainda falta escolher o ministro da Defesa e do Interior) são xiitas, três dos quais são ex-primeiros-ministros. Os restantes são curdos (três) e sunitas (dois).

 O último primeiro-ministro e agora vice-presidente, Nouri al-Maliki, é acusado tanto pelos EUA como pelas diversas facções religiosas do Iraque como um dos principais responsáveis pelo aparecimento do EI (Maliki é xiita e os extremistas do EI são sunitas). “Maliki retirou o poder aos sunitas, insultou-os. Há um ano virou-se para os curdos. Acusou-nos de sermos separatistas”, disse ao SOL Daban Shadala, representante do Curdistão em Espanha e Portugal, acrescentando que “alguns líderes tribais, membros do antigo regime de Saddam (sunita), viram – de início- com bons olhos o EI porque representava uma força contra Maliki”.

O canal de televisão pró-sunita já afirmou que foi “a pressão externa” que fez com que o Governo tivesse novos intervenientes, mas as várias entrevistas aos cidadãos iraquianos tiveram quase todas um denominador comum: “Este Governo não é muito diferente do anterior”.

O novo primeiro-ministro, Abbadi, já se comprometeu a resolver as disputas territoriais com a região autónoma do Curdistão (desde Saddam Hussein que os curdos perderam grande parte do seu território). “O meu Governo está comprometido em resolver os problemas com o Curdistão”, afirmou, durante a sua tomada de posse. O bloco político curdo esteve num impasse até à última hora para ver se entrava ou não na formação deste novo Governo.

EUA em busca de mais aliados

John Kerry viaja esta terça-feira para o Médio Oriente e vai pedir aos seus parceiros na região para apoiarem este novo Governo iraquiano no combate ao EI. É expectável que se encontre com o novo ministro dos Negócios Estrangeiros iraquiano, mas também com autoridades do Egipto, Jordânia, Líbano e mais seis Estados da região do Golfo.

Barack Obama irá anunciar nesta quarta-feira a estratégia de combate ao EI.  

miguel.mancio@sol.pt