Numa cerimónia onde não faltaram membros do Governo (Passos Coelho, Rui Machete e Barreto Xavier) e na qual o CDS se fez representar em peso, com os três ministros presentes (António Pires de Lima, Assunção Cristas e Pedro Mota Soares), Durão Barroso fez um balanço dos dez anos de liderança europeia e garantiu que sempre teve Portugal como referência no desempenho das suas funções: “Procurei transmitir uma certa sensibilidade portuguesa à presidência da Comissão Europeia. (…) Este país foi grande foi quando olhou para fora, não quando olhou para dentro. Portugal foi grande não quando afirmou o ‘orgulhosamente sós’, mas quando hoje pode afirmar o ‘orgulhosamente europeus’”.
O ex-Presidente, que fez um discurso de pouco mais de 15 minutos, passou em revista os momentos de uma década em que os líderes e as instituições europeias se viram obrigados a “dar um novo impulso à integração europeia”, face à crise financeira e ao alargamento de 15 para 28 Estados-membros em 10 anos. Durão lembrou que a “crise financeira da dívida soberana constituiu um desafio excepcional”, já que “foi além” disso: “foi uma crise económica, uma crise social e também uma crise política que se reflectiu na confiança dos cidadãos no projecto europeu”, reconheceu.
“A União Europeia respondeu a esta crise com a criação de instrumentos excepcionais de estabilização financeira, com regras reforçadas de governação no plano interno, nomeadamente na zona euro, e com poderes também reforçados” na própria União, acrescentou, referindo ainda a união bancária como um dos grandes desafios do seu mandato e as “cerca de 40 peças legislativas que a Comissão Europeia propus e que hoje em dia constituem ao nível internacional o conjunto mais completo que existe”.
“É com orgulho que vejo que a União Europeia respondeu a todos estes desafios com posições de princípio, reforçando sempre a convicção dos seus próprios valores”, sintetizou. A “questão social e a questão do desemprego” são o problema “mais grave que a Europa enfrenta”, admitiu. “Mais investimento privado mas também público” podem ajudar a resolver o problema.
Durão aproveitou para criticar a tendência dos líderes dos Estados-membros: “O que acontece de bom deve-se a eles, o que de mau se passa é culpa da Europa”. O ex-Presidente aproveitou e fez pedagogia. “A Comissão Europeia tem bastantes competências mas não decide. As decisões finais são tomadas pelos Governos e em muitos casos pelo Parlamento Europeu”. Ainda assim, pediu a Portugal para que “não se deixe contaminar” por aquilo que “me parece ser o recuo de algum soberanismo” com “reflexos nacionalistas”, como os que estão “agora em voga em alguns lugares da Europa”. “Neste século XXI, o poder está na relação e na capacidade de se integrar e de se influenciar (…) muitas vezes partilhando soberania”.
“Esteve sempre em mim, ao longo destes 10 anos, a convicção que estava também a executar um programa português. Defendi o interesse de Portugal porque não via nele qualquer contradição com o interesse europeu”, afirmou Durão Barroso já no final da sua intervenção, para garantir que defendeu “condições mais solidárias na aplicação de programas de ajustamento”, como aquele a que Portugal foi sujeito, e para garantir que “países como o nosso viessem a sair deste programa sem precisar de mais condições”.