Uma pessoa quer visitar os antigos colegas, os amigos e a família, voltar ao miradouro onde passou tantos fins de tarde agradáveis e ao café onde às vezes lanchava e passear pelo bairro onde morava e ainda aproveitar para se abastecer de certas coisas – mas agora tem de ser tudo condensado num só dia.
E depois a vida segue o seu caminho e as distâncias adensam-se. Os quilómetros são os mesmos mas o dia-a-dia encarrega-se de complicar tudo. Agora, planear uma ida a Lisboa é quase como planear uma pequena excursão mas em contra-relógio. E o que poderia ser um passeio agradável acaba muitas vezes por ser uma maratona.
Quando viemos viver para o Alentejo estava a começar a moda das hamburguerias. Portanto, num dos regressos fomos lá comer. Logo a seguir foi a moda dos pregos. Também lá fomos. Mais recentemente, o Mercado de Campo de Ourique e o Mercado da Ribeira ou vice-versa. Já não fomos.
O contra-relógio não permite, nem tão pouco a lista gigantesca de afazeres e muito menos a paciência. Já não há pachorra para tantas prego-hamburguerias e mercados retro-chique-gourmet. Agora uma pessoa pára no primeiro restaurante que lhe aparecer pela frente.
Depois, toda a lista de afazeres é definida em torno do horário da refeição: assuntos a tratar, pessoas a ver, sítios a ir, compras, locais a espreitar e novidades. É a loucura. Como por vezes ainda há paragens a fazer pelo caminho, corre-se o risco de nunca se chegar ao destino – ou se chegar tarde demais. Como tal, cada paragem, visita e entrada ou saída tem hora marcada.
Mas ir a Lisboa na época do Natal é mais complicado ainda.
O plano era ir ver as iluminações natalícias e descansar da tranquilidade da vida no campo; mas depois a lista adensou-se com a inevitável caça aos presentes. Com a agravante de sabermos que é a última oportunidade – antes de nos irmos enfiar no inferno de um centro comercial, quando o país inteiro também se afadiga na compra das últimas prendas.
Aquilo que era para ser um passeio tranquilo acabou por ser uma lufa-lufa de entradas e saídas de lojas e mais lojas. Escusado será acrescentar que uma mulher não é de ferro – e ver ao vivo aquilo que se anda a namorar na internet é muito tentador…
Assim, nem ao Arco do Rossio conseguimos ir. Até o plano de tirar um monte de fotografias foi para as urtigas. E à medida que nos vamos aproximando do fim da enorme lista de tarefas, estamos estafados – e o que já nos apetece mesmo é voltar para casa, enquanto prometemos nunca mais fazer uma maratona destas.