O investimento privado caiu muito nos últimos anos. E o investimento público está limitado pela crise da dívida do Estado, não podendo compensar a retracção dos privados.
Portugal sofre de um excesso de dívida pública. Mas fala-se menos da enorme dívida das nossas empresas, a maior da União Europeia em percentagem do PIB. Está aí o grande travão ao investimento empresarial.
No Verão passado o endividamento das empresas chegou a 163% do PIB (a dívida pública ronda os 130%). Depois baixou para perto de 150%, valor ainda excessivo. Em 2012 os juros pagos pelas empresas endividadas foi, em média, de cerca de 57% do respectivo cash flow (fluxo de entradas e saídas de dinheiro em caixa). Ou seja, muitas dessas empresas vivem aflitas com problemas de tesouraria e dependem dos bancos para não falirem, renegociando prazos de pagamento dos empréstimos. Assim, os gestores pensam em tudo menos em investir.
Por isso, mais do que crédito bancário acessível e barato (regressará algum dia?…), faltam projectos de investimento que os bancos possam financiar sem correrem riscos exagerados. Recorde-se que o crédito mal parado continua a subir em Portugal, devendo atingir o pico ao longo deste ano, segundo a Fitch.
O endividamento das empresas agravou-se naturalmente com a crise que sofremos desde 2011. Mas já vem muito de trás a insuficiência de capitais próprios no tecido empresarial português, em particular nas unidades de menor dimensão. Os donos não têm dinheiro para capitalizar as suas empresas; e frequentemente receiam reduzir ou mesmo perder o controlo sobre elas se admitirem a entrada de capital fresco – quer dizer, de um ou mais sócios.
Há sinais, ainda ténues, de uma ligeira recuperação no investimento empresarial, sobretudo em empresas de grande dimensão. Este terá subido 0,4 pontos percentuais para 21,4% do Valor Acrescentado Bruto no ano terminado no terceiro trimestre de 2014, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Mas em 2008 essa taxa ultrapassava os 28% e antes disso andava próxima dos 30%.
Depositam-se esperanças nos fundos comunitários, que vão em breve chegar. Já aqui manifestei reservas à utilidade do 'dinheiro fácil'. Muito dinheiro da UE foi mal gasto, porque estava disponível e era preciso aproveitá-lo de qualquer maneira, multiplicando-se os maus investimentos, públicos e privados.
Consciente disso, o Governo tomou algumas precauções sensatas. Prioridade ao financiamento de projectos empresariais – mas não a fundo perdido; o dinheiro é concedido em função de objectivos concretos (não de sectores); se os objectivos forem cumpridos ou ultrapassados, a empresas poderão não reembolsar uma parte do empréstimo. Veremos se resulta.
Em Espanha o investimento empresarial está a crescer e o desemprego a baixar. Por cá, o endividamento das empresas é maior, travando o investimento. É um nó que levará tempo a desatar.