Sempre achei esta afirmação demasiado simplista e redutora. Como se a acção e a inércia pudessem ir directa e respectivamente para as duas caixinhas perfeitamente herméticas do arrependimento e não arrependimento.
Acho que, às vezes, o melhor que uma pessoa tem a fazer é não fazer absolutamente nada. E sei disso, também, porque nesta corrida que tem sido a remodelação da minha casa continua a ser necessário refazer uma e outra vez o que já tinha sido feito – e que outrora, aos nossos olhos de inocentes principiantes, até parecia bem.
Numa casa de família e ao longo de mais de 40 anos acumulam-se todo o tipo de móveis e todo o tipo de objectos, o que oferece possibilidades infinitas. E isso não é bom quando a inexperiência e a pressa também fazem parte da equação.
No princípio, quando a casa do monte era só para ser uma casa de férias para passarmos uns dias fora de Lisboa, parecia tudo muito fácil: umas latas de tinta eram a solução para a maior parte dos problemas.
Entretanto, com a decisão de a transformarmos num negócio de alojamento turístico, fomo-nos apercebendo de que as soluções iniciais e milagrosamente simples não tinham saído lá grande coisa; e cometemos algumas rematadas asneiras, como pintar uma parede com uma cor vibrante para desviar a atenção de um chão de aspecto duvidoso. Claro que agora estamos a colocar chão novo e voltámos a pintar a parede de branco.
Mas ter o dobro do trabalho para fazer qualquer coisa é um dos perigos de fazermos as coisas sozinhos, em vez de as mandarmos fazer.
As remodelações são como as perguntas com 'rasteira': pensamos que estamos a responder bem, mas no fim a resposta está errada.
No princípio a tarefa parecia fácil: tudo o que fosse estranho a uma casa tipicamente alentejana saía, o que estivesse a cair de podre também, ficava apenas o que fosse antigo e valesse a pena ser recuperado.
Mas depois as coisas complicam-se. Há vários tipos de tinta. Há tinta para madeira e tinta para paredes. Há tinta para exterior e para interior. Há tinta em spray que agarra a qualquer material. E existem as tintas primárias. E depois há isto tudo em todas as cores do mundo (nós aprendemos da pior maneira que, em caso de dúvida, o melhor é ir de branco).
E, de entre as coisas que podem ser recuperadas, há que distinguir entre as que serão úteis e as outras – que, por serem típicas de um tempo em que as coisas se faziam de outra maneira, talvez valha a pena preservar, mas para as quais não há qualquer utilidade imediata, como as pás de cozer o pão, as ferramentas agrícolas, as bilhas de azeite, os caixotes da fruta, os alguidares de barro, os cestos.
À medida que nos vamos aproximando do fim desta maratona, uma simples camada de tinta antecedida por uma lixadela já deixou de ser suficiente.
É suposto que tenhamos aprendido qualquer coisa, até porque nos preparamos agora para passar a tarefas mais exigentes: o chão, a canalização, a electricidade. Talvez tivesse sido melhor começar por aqui, pelo mais básico, mas tínhamos de começar por algum lado.
Se, no final, isto não fizer de mim uma especialista nas coisas elementares, pelo menos faz de mim uma especialista naquilo que não se deve fazer. E isso talvez já seja meio caminho andado para o caso de querer voltar a meter-me noutra aventura como esta.