Literatura infanto-juvenil lusófona em debate

A fundação O Século (S. Pedro do Estoril, Lisboa) acolheu escritores, ilustradores, editores e contadores de histórias de vários países lusófonos, reunidos no âmbito do 1.º Encontro de Literatura Infanto-Juvenil da Lusofonia.

O evento decorreu em diversos moldes, desde visitas às escolas de Cascais, Oeiras e Lisboa ao lançamentos de livros e participação em debates, onde se discutiu o papel e as especificidades da literatura para crianças nos vários países da língua portuguesa.

Entre os vários participantes, estiveram presentes no penúltimo dia do encontro (que decorreu de 2 a 7 de Fevereiro) Ondjaki (Angola), Carmelinda Gonçalves (Cabo Verde) e Margarida Botelho (Portugal), oradores da palestra 'Da tradição oral à escrita de autor na África Lusófona'. À semelhança dos restantes debates, os autores reflectiram acerca das especificidades da literatura para a infância e sobre o imaginário que, segundo José Fanha, é um aspecto literário importante a ser transmitido às crianças.

“A língua portuguesa comporta imaginários muito diversos, que vão da tradição oral portuguesa europeia, angolana, africana à urbana, como é a literatura do Ondjaki, por exemplo. Isto é duma riqueza muito grande. São muitas formas de olhar o mundo e, por isso, temos de fazer circular estes imaginários”, frisou o comissário do encontro.

Ondjaki lançou, no último dia do evento, o seu mais recente livro para crianças (Ombela – A origem das chuvas, a história duma menina que inventou a chuva, a partir de lágrimas doces e salgadas), vencedor do Prémio Caxinde do Conto Infantil.

O contacto directo que este encontro promove entre autor e criança foi tido como um importante aspecto pelo escritor angolano. “A particularidade deste encontro é que se dedica exclusivamente à literatura infanto-juvenil. Além dos debates, leva os autores ao encontro das crianças, dos leitores. Isso é importante porque desmistifica a ideia do autor isolado”, disse ao SOL.

Dialogar para resolver

Para além de promover este tipo de interacção, o encontro tinha como objectivo o diálogo como meio de identificação de problemas e soluções sentidos pelos autores lusófonos, no que diz respeito à publicação e circulação das obras infanto-juvenis na lusofonia.

“Qualquer dos países tem uma literatura forte, mas eu estou preocupado com a literatura para a infância, que é um instrumento de crescimento fundamental”, defendeu José Fanha.

A solução proposta passa pela criação de uma plataforma “que permita a circulação de escritores, de livros e de imaginários pelo espaço da lusofonia”, de forma a solidificar a tradição literária infanto-juvenil em países com um mercado mais reduzido. A proposta vai no sentido do que foi debatido em Luanda em Janeiro no V Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, organizado pela UCCLA, e no qual José Fanha também participou.

Carmelinda Gonçalves, cujas obras são publicadas em Cabo Verde, admitiu ao SOL sentir que “existe uma barreira que este encontro consegue fazer diluir”, ao permitir “conhecer editores, ilustradores e abrir portas para a literatura cabo-verdiana”.

Apesar de José Fanha não ter conseguido confirmar a segunda edição do encontro, afirmou que “o sucesso deste permite pensar que é muito provável”, e que, eventualmente, venha a circular por outros países lusófonos.

simoneta.vicente@sol.pt