O ex-reitor da Universidade de Lisboa diz que é chegado o “tempo da coragem e da acção. Tal como em Abril, temos de ser nós a dar um contributo para a alterar o panorama europeu. Podemos, sim. Não somos uma jangada. É na Europa que podemos afirmar a nossa posição”. A austeridade, diz, é um “desastre”. E vai mais longe, numa crítica cerrada ao Governo. “Todos reconhecem, mesmo os seus autores, menos aqueles que vivem no pais da propagada do Governo”. Ora, por isso mesmo, a missão é clara: “acabar com esta política antes que esta política acabe connosco”, alertou.
Carlos César, Presidente do PS, assistia da primeira fila à intervenção muito aplaudida do presidenciável desejado por alguns sectores do PS, se o PS tiver de se virar para independentes depois dos seus senadores faltarem à chamada, como António Guterres ou António Vitorino. O professor universitário, aliás, não deixou de evocar os socialistas que passaram por Belém. Elogiou Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e citou Humberto Delgado que disse estar “pronto para morrer pela liberdade”.
“Esta é a responsabilidade de uma geração. Somos e seremos sempre aquilo em que acreditarmos. Pela minha parte, não tenho medo, sou livre. É preciso liberdade desta para servir. A ousadia é já metade da vitória. Juntos ganharemos o que perdemos separados. A eternidade é hoje ou não será nunca”, afirmou, para reiterar que eleições, sejam legislativas ou presidenciais, “só valem a pena se for para abrir um tempo de mudança em Portugal. Sobre os políticos antigos, nova farpa: “Com políticos antigos não haverá políticas novas. Ficará tudo enredado em calculismos, golpes, hesitações, sem elevação e sem futuro. Recusemos sebastianismos, populismos e jusiticialismos”.
Sampaio da Nóvoa e Carvalho da Silva defendem a renegociação da dívida. O ex-líder da CGTP, que também se assumiu disponível para entrar na corrida à sucessão de Cavaco Silva, aproveitou o palco para criticar o o programa do Governo para atrair emigrantes de novo a Portugal (VEM). “É preciso desmontar estas trapaças como o caso do programa anunciado há dois dias para trazer os jovens que emigraram: isso não é programa coisa nenhuma e é quase provacatório”, acusou.
Sobre o que podem ser as suas funções se chegar a Belém, Carvalho da Silva levantou a ponta do véu: disse que é obrigação do Presidente da República “identificar problemas concretos, interpretá-los e colocar-se neles, trazê-los a debate”. O professor universitário alertou ainda para a necessidade de dizer não a todos os que querem institucionalizar o assistencialismo de emergência como sistema de protecção. “Temos de nos levantar contra isto e dizer não”, desafiou o ex-líder da CGTP.
Também Paulo Morais, ex-número dois de Rui Rio no Porto que pediu a suspensão do cargo de vice-presidente da associação cívica Integridade e Transparência, segundo noticiou o Expresso, foi bastante crítico quando ao desempenho do Governo e do Presidente da República (PR). Aliás, de Cavaco Silva disse que o só tinha uma coisa a fazer de duas: “Ou a demissão do Governo ou, em alternativa, a sua própria demissão”. A intervenção do ex-autarca foi centrada na denúncia e no combate à corrupção, funções que na sua opinião cabem a Belém. “Nem o PR cumpre a Constituição da República Portuguesa”, notou, depois de acusar Passos de violar o programa eleitoral que estabeleceu com os portugueses o que coloca em causa o regular funcionamento das instituições.
Ramalho Eanes assistiu da primeira fila a todas as intervenções. À saída do Congresso da Cidadania, por onde passaram entre sexta-feira e sábado Marinho e Pinto, Rui Tavares, Joana Amaral Dias, Ana Drago, Helena Roseta, entre outros, o ex-Presidente da República deixou o alerta: ainda é cedo para discutir presidenciais. “Não me pronuncio sobre candidaturas, o que digo é que ainda é cedo e nós não podemos sempre estar à procura de um pretexto para não olharmos para o presente imediato e não reflectirmos sobre as suas exigências. E o presente imediato são as eleições para o Parlamento”, lembrou Eanes.