PS realmente diferente do PSD

Não há nada pior em democracia do que a falta de alternativas. Se o PS viesse a ser igual ao PSD, como Passos se mostrou uma réplica quase perfeita de Sócrates (até na teimosia) – acabando por fazer o dobro do que nele criticava – estaríamos arranjados nas próximas eleições.

Mas não. São inteiramente diferentes. Desde logo eles, como pessoas: Passos Coelho continua igual a si próprio, a prometer tudo, este mundo e o outro, tendo cara para garantir todos os anos que a austeridade acaba no seguinte, vindo então o emprego e o crescimento, e sendo sempre desmentido pela realidade. Imaginemo-lo agora à porta das eleições, ar seráfico e promessa sempre garantida. António Costa, pelo contrário, evita fazer qualquer promessa – e até diz que os documentos com propostas do partido não são ‘Bíblias’, nem os seus autores os ‘apóstolos’. Só esta diferença já é enorme.

Mas há mais. Suponho que foi Helena Garrido que entrevistou ambos para o seu Jornal de Negócios, e enquanto Passos defendeu o apoio às empresas e aos empresários (ele nunca se humanizou ao ponto de pensar nos trabalhadores e na função social das empresas), garantindo ser por aí que virá a solução dos nossos problemas; já Costa optou pelo apoio aos trabalhadores e consumidores, e ao investimento público (keynesiano, krugmaniano), para atingir objectivos mais ambiciosos. Claro que depois de ver o resultado de 4 anos de Passos à solta, qualquer outra solução parece melhor.

E a proposta económica socialista, elaborada por um grupo coordenado por Mário Centeno, merece toda a atenção, mesmo não sendo a ‘Bíblia’, nem Centeno um ‘apóstolo’. Curiosamente, as únicas críticas virulentas até agora, do documento como um todo, vieram da maioria governamental – pelos vistos, sem sequer se interessar por o ler e conhecer antes. Só por esse feitio pouco ético, politicamente enviesado, e tecnicamente nulo, merecem sair o mais depressa possível do Governo – na minha modesta opinião.