The Sun chama baratas a imigrantes

A ONU criticou hoje fortemente o tablóide britânico The Sun por um editorial em que chamou “baratas” aos imigrantes e pediu ao governo britânico que faça tudo ao seu alcance para combater o discurso de ódio. 

Numa declaração, o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, sublinhou que a palavra "baratas" foi usada pelos nazis nos anos 1930 e no processo que conduziu ao genocídio de 1994 no Ruanda.
 
Zeid pede ao Reino Unido e a todos os países europeus que adoptem "uma linha mais firme em relação ao racismo e à xenofobia" que, actualmente, "são autorizados, a coberto da liberdade de expressão, a alimentar um círculo vicioso de difamação, de intolerância e de politização dos imigrantes e das minorias europeias".
 
O editorial de 17 de Abril do The Sun, o jornal mais vendido no Reino Unido, reflecte "um racismo encoberto que está a caracterizar o debate sobre imigração num número crescente de países europeus", criticou o alto-comissário.
 
Por outro lado, acrescentou, este tipo de linguagem "destrói a compaixão pelos milhares de pessoas que fogem a conflitos, violações de direitos humanos e privação económica e acabam por morrer afogadas no Mediterrâneo".
 
"Os ataques verbais perversos contra os imigrantes e candidatos a asilo sucedem-se nos tablóides britânicos há demasiado tempo sem serem contestados do ponto de vista legal. Sou um defensor inflexível da liberdade de expressão (…), mas essa liberdade não é absoluta", afirmou.
 
"A História mostrou-nos, uma e outra vez, os perigos da diabolização dos estrangeiros e das minorias e é verdadeiramente extraordinário e profundamente escandaloso ver este tipo de táctica ser utilizada em todo o tipo de países, simplesmente porque o racismo e a xenofobia são muito fáceis de despertar para ganhar votos ou vender jornais".
 
Zeid apela por isso às autoridades britânicas, aos 'media' e às entidades reguladoras que tomem medidas imediatas para pôr fim aos artigos racistas, apelo que estende a todos os países europeus.
 
No editorial, a colunista Katie Hopkins escreveu que fica indiferente perante imagens de cadáveres a boiar, caixões e "pessoas magras com um ar triste".
 
"Não se deixem enganar, estes imigrantes são como baratas. Podem parecer 'a Etiópia de Bob Geldof de 1984', mas são feitos para sobreviver à bomba atómica", escreveu. 
 
Lusa/SOL