Conselho da Magistratura: é urgente contratar funcionários para os tribunais

A falta de funcionários judiciais é actualmente “o factor mais perturbante” do dia-a-dia dos tribunais, alertaram hoje os responsáveis do Conselho Superior da Magistratura (CSM).

Em conferência de imprensa convocada para fazer um balanço do novo mapa judiciário que entrou em vigor há cerca de nove meses, o presidente e o vice-presidente do CSM, António Henriques Gaspar e Joaquim Piçarra, respectivamente, propuseram no entanto “alguns ajustamentos”, nomeadamente nos tribunais de Família e Menores, Comércio e Execuções.

“Não é possível ainda fazer juízos definitivos sobre os resultados da reforma. O balanço global precisa da prova do tempo, mas é possível fazer algumas reflexões”, salientou Henriques Gaspar. Nas áreas cível, criminal e de trabalho, o CSM verificou que “está tudo a correr bem e até há sinais positivos que dão esperança”. Mas o CSM verificou “constrangimentos” ao nível dos tribunais de Família e Menores “nas Beiras, Trás-os-Montes, Alentejo e Açores”, em que os cidadãos têm de percorrer grandes distâncias para terem acesso a esses tribunais, o que dificulta, por exemplo, os processos de acompanhamento e protecção de menores. Também nos tribunais de Comércio e Execução há problemas, mas em todo o país: as execuções (cobranças de dívidas) representam “cerca de 70% do total de processos pendentes” e “têm uma taxa de exequibilidade muito pequena”, sendo que foram concentrados nos tribunais sede de distrito, que ficaram afundados com este tipo acções.

Mas o maior problema – “e que existiria sempre independentemente da reforma do mapa judiciário, fruto do desinvestimento que houve ao longo dos anos nesta área”, salientou Joaquim Piçarra – é o défice de oficiais de justiça, que o CSM estima “em 25%”. Por isso, salientou Henriques Gaspar, “é urgente pensar na abertura de outro concurso para oficiais de justiça”, para além daquele que o Ministério já tem a decorrer e que visa admitir 600 funcionários.

De resto, o CSM traçou para este ano o que designa de “objectivos estratégicos”: implementar o novo modelo de gestão das comarcas, dotar os tribunais dos meios necessários, melhorar o tempo de resolução dos processos, racionalizar e padronizar procedimentos e promover o acesso e a transparência do sistema de justiça.

Até 31 de Agosto próximo, o Conselho deverá analisar e aprovar os objectivos processuais que cada um dos presidentes das 23 comarcas lhe vai propor. Mas alerta que haverá um constrangimento: “O Citius (o sistema informático dos tribunais) não fornece ainda hoje dados fiáveis quanto ao número de processos pendentes. E enquanto não tivermos estatísticas fiáveis, não podemos fixar ao sistema objectivos adequados e realistas”, disse Henriques Gaspar.

paula.azevedo@sol.pt