Isaltino: Um ‘presidente’ na Feira do Livro

Não houve banhos de multidão na sessão de autógrafos que Isaltino Morais deu ao final da tarde na Feira do Livro, em Lisboa, dois dias depois de lançar oficalmente A Minha Prisão. Foram sobretudo amigos e antigos ou actuais funcionários da Câmara de Oeiras que fizeram fila para terem uma dedicatória do homem a que…

De camisa branca, calças de ganga e chapéu de palha, e com o filho Afonso de 12 anos sempre ao lado, Isaltino Morais conversou, distribuiu beijos e abraços, reencontrou pessoas que não via há mais de 20 anos. Entre elas, Manuela Pinheiro que saiu de Almada de propósito para ir ao Parque Eduardo VII comprar a obra onde o ex-autarca de Oeiras recorda os 427 dias que passou na prisão da Carregueira em Sintra, cumprindo a pena de dois anos a que foi condenado por fraude fiscal e branqueamento de capitais. «Quando soube que ele ia dar autógrafos decidi esperar”, conta ao SOL a antiga telefonista que trabalhou com Isaltino no Instituto Nacional de Estatística, na década 80 do século passado. “Fui acompanhando a sua vida política e depois segui com o coração apertado a sua prisão”, conta enquanto desce a rua da Feira do Livro, à espera de encontrar um banco onde possa sentar-se a decifrar a dedicatória.

Apesar do calor, Ângela Tavares espera na fila com três livros na mão e todos já estão destinados. A funcionária da tesouraria da Câmara de Oeiras veio com encomendas de uma colega que não pôde estar na sessão, comprou um livro para si e outro para dar à mãe. “Quando é que nos visita?”, pergunta quando se despede do autarca, que esteve mais de 20 anos à frente da Câmara de Oeiras. Isaltino, ex-ministro do Ambiente e das Cidades no Governo de Durão Barroso, ri.

“Neste momento não tenho intenção de voltar à vida política”, garante ao SOL Isaltino, que está ocupado com a divulgação do livro e divide os dias entre as sessões de apresentação e o escritório de consultadoria na Avenida de Berna. “A recepção da obra está a superar as expectativas. No dia do lançamento [na passada quainta-feira] fiquei a dar autógrafos até às 22h30”, adianta, dizendo que só depois de lerem as mais de 400 páginas será possível as pessoas formarem a “sua convição sobre este processo, de condenação sem provas e de sentenças retroactivas”.

Quem passa pela mesa onde Isaltino está sentado pára surpreendido. “Olha, olha o que espera o Sócrates”, ri-se um homem que sobe a rua. Outros tiram fotografias com os telemóveis e criticam o antigo presidente da câmara: “Eu do Isaltino é que não compro”, diz um outro. “Parece o salvador da pátria”.

Surdo aos comentários, Isaltino continua a encontrar amigos. “Você aqui”, diz quando vê um antigo assessor seu na Câmara de Oeiras, que também não faltou ao lançamento da obra. Quase hora e meia depois de estar sentado à mesa, Isaltino está prestes a dar por terminada a sessão. Mas é então que se cruza, “por acaso”, com o ex-espião Jorge Silva Carvalho, que está a passear com a família pela Feira do Livro. Silva Carvalho faz questão de cumprimentar o antigo autarca e garantir que já tem o seu exemplar.

Cansado e com calor, Isaltino abandona o Parque Eduardo VII. Mas as sessões de autógrafos vão continuar. Amanhã pelas 16.30, o ex-presidente da câmara volta ao seu município e estará sentado no Continente de Oeiras. Fará mais uma apresentação da obra na quarta-feira, dia 10, no Teatro Lurdes Norberto, em Linda-a-Velha, a convite do encenador Armando Caldas.