Portugueses medalhados. Um olho em Baku e outro no Rio

Na mesa de pingue pongue, no caiaque e na estrada, ou ao tiro e pontapé, Portugal já tem sete motivos (ou medalhas) para festejar nos Jogos Europeus, um teste para as Olímpiadas de 2016.

Tinha seis anos quando pegou numa raquete. Incentivado pelos amigos, nunca mais a largou. Aos 17 decidiu aventurar-se no estrangeiro para descobrir se era realmente «bom jogador». Dois anos depois, a certeza: ao título de campeão nacional juntou esta semana um «muito melhor».

João Geraldo conquistou na segunda-feira a primeira medalha de ouro para Portugal na edição inaugural dos Jogos Europeus – uma espécie de Jogos Olímpicos só para países do Velho Continente que envolve quase seis mil atletas de 20 modalidades, entre 12 e 28 de Junho ­–, ao vencer a final de ténis de mesa por equipas, a par de Marcos Freitas e Tiago Apolónia. Um feito que o consagra como o herói mais novo da comitiva portuguesa, composta por 100 representantes e já com seis medalhas arrecadadas em Baku, no Azerbaijão.

 «A minha primeira reacção foi mandar a raquete para o chão e gritar que éramos a melhor equipa da Europa. É algo que vou lembrar-me para sempre», conta ao SOL o jovem de Mirandela, que selou o triunfo de Portugal sobre a França (3-1). Uma vitória que demonstra que a vitória no Europeu de Lisboa, no ano passado, não foi um acaso.

Chamado à última da hora para substituir o lesionado João Monteiro, João Geraldo (96.º da hierarquia mundial) agarrou a oportunidade e só precisou de 15 minutos para bater o francês Adrien Mattenet (46.º) por 3-0.

«Sinto-me muito orgulhoso. Demonstrei que posso jogar ao mais alto nível europeu», sublinha Geraldo, que representou nas últimas duas épocas um clube da segunda divisão alemã e já se comprometeu com outro do escalão principal para 2015/16.

Com a matrícula na Faculdade de Engenharia do Porto congelada, o futuro imediato passa por garantir um bom resultado no Campeonato da Europa, em Setembro, de forma a marcar presença nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. «Queremos uma medalha olímpica. Desta equipa podem esperar tudo», assume João Geraldo.

Um sonho idêntico ao de Fernando Pimenta, que fechou a sua participação em Baku com duas medalhas de prata (K1 1.000m e K1 5.000m). «É um bom prenúncio para os Jogos Olímpicos. Estou no bom caminho para as medalhas», afirma ao SOL o canoísta do Clube Náutico de Ponte de Lima, que vai atacar a qualificação para o Rio nos Mundiais de canoagem em Agosto.

O desempenho nos Jogos acabou por ser uma surpresa para o vice-campeão olímpico em 2012. «Sabia que podia andar perto das medalhas, mas o nível era muito elevado e nem tinha feito uma grande preparação. A nata da canoagem estava cá», assinala Pimenta.

Pouco previsível era também o resultado de João Silva, que teve de superar um mau arranque na prova de triatlo, no domingo, para chegar ao segundo lugar do pódio e abrir a contagem de medalhas para Portugal. O triatleta do Benfica desceu da bicicleta e entrou na fase de corrida no 21.º posto, a quase dois minutos da liderança.

«Não tinha mais nada a fazer do que dar tudo por tudo», diz ao SOL João Silva, que foi galgando lugares e cruzou a meta a escassos 11 segundos do vencedor.

«É a magia do desporto. Quem acredita mais consegue melhores resultados», salienta o português, que acabou exausto: «A primeira coisa em que pensei foi encontrar uma sombra. Estava muito calor». Segue-se o Campeonato do Mundo, no final de Julho, para garantir um lugar nos Jogos Olímpicos.

Aos feitos no ténis de mesa, canoagem e triatlo juntam-se os do taekwondo e do tiro. Na arte marcial, Rui Bragança, do Vitória de Guimarães, deu o ouro a Portugal na categoria de -58kg. Júlio Ferreira, do Sp. Braga, alcançou o bronze em -80kg. E na prova de pistola de ar comprimido a 10 metros, João Costa, do Sporting, ficou com a prata.

hugo.alegre@sol.pt