O Eusébio não era ‘vermelho’

Não vou entrar na discussão sobre se o Panteão Nacional deve ser apenas para eruditos, ou também para os ícones da actual cultura popular e democrática.

Penso que se optámos por esta cultura, temos de admitir que os populares queiram no seu Panteão, ao lado das figuras eruditas de antes, os seus heróis actuais, desde a fadista Amália ao futebolista Eusébio.

Só me preocupa a associação da palavra ‘vermelho’ ao Eusébio. Ele nunca foi ‘vermelho’. Sempre ‘encarnado’.

Podem achar que isto é uma simples questão de snobeira, pois o ‘encarnado’ está para o ‘vermelho’ como o ‘presente’ para a ‘prenda’. São palavras que distinguem o topo da pirâmide social, independentemente de dinheiros (apenas educação enraizada em referências de gerações) da sua base mais popular. Podem até dizer-me que só por isso, acham mais democrático e popular usar as palavras da base da pirâmide, como ‘vermelho’ e ‘prenda’, em vez de ‘encarnado’ e ‘presente’.

Mas, neste caso, não se trata apenas da pirâmide social, embora ele talvez não possa deixar de estar lá. A palavra ‘encarnado’ existe nos dicionários, e a generalização do vermelho é até muito recente (talvez a coincidir com a maior democratização social).

A verdade é que, desde a sua origem, o Benfica (clube onde se misturava a aristocracia, a burguesia e o povo mais chão) sempre foi ‘encarnado’, deixando-se o ‘vermelho’ (mesmo o mais básico) para outras qualificações, como a dos comunistas. Definitivamente, o Eusébio nunca foi ‘vermelho’ (pelo que a sua trasladação para o Panteão não pode ser acompanhado por bandeiras ou tochas ‘vermelhas’), sempre ‘encarnado’ (bandeiras e tochas ‘encarnadas’)..