É verdade que também me ajudaram a ser mais diplomática e a sorrir quando não haveria motivo para tal.
Quem trabalha com o público sabe que as pessoas, em geral, são difíceis de aturar e de satisfazer. E depois de sairmos do trabalho, a única coisa que não nos apetece é ver e lidar com mais pessoas.
Mesmo uma livraria, que se supõe ser um lugar onde o ritmo é mais calmo e o frenesim consumista mais ponderado, pode atingir níveis de insanidade. Também ali confluem pessoas zangadas com a vida e outras menos educadas.
Embora na escola primária eu fosse muito conversadora – e eram frequentes os recadinhos da professora para casa -, durante muito tempo, depois daquele emprego, andei meia desligada das gentes e pouco predisposta para me prestar a simpatias para com estranhos.
Mas dois anos e um par de meses a viver no Alentejo talvez tenham mudado isso. Se no Inverno o Alentejo pode ser triste e solitário, no Verão é totalmente diferente. Não sei se é por causa dos estrangeiros ou por haver muita gente em férias, ou pelo ambiente. Mas o facto é que o Alentejo é diferente no Verão. Até eu me sinto diferente.
Ao mesmo tempo, em dois anos outras relações se alteraram – em particular a relação que temos com o telemóvel. Já não conversamos. Agora mostramos o vídeo ou a imagem no iphone, no ipad ou no iqualquercoisa, e depois partilhamos o que comemos, onde estivemos e até com quem estivemos nessa vida paralela e imensamente feliz que é o Facebook. No meio de tanta informação, sobra pouco tempo para partilharmos a nossa vida real com as pessoas.
Dos muitos turistas que por aqui passam, aqueles que vamos encontrando referem o ambiente tranquilo e longe da infestação de turismo de que padece o Algarve e a costa alentejana mais a Sul. E suponho que é este ambiente sereno que favorece a conversa e a partilha de estórias. É uma espécie de live facebook show.
De todas as pessoas que encontrei, espero nunca me esquecer da Anne-Marie e do Karl, canadianos a viver no Gana, que de volta a casa resolveram passar por Portugal para descansar.
Da Deidre e do Yahav, de Amesterdão e de Israel. Nós explicámos-lhes como se consegue viver com um orçamento impossível para os padrões holandeses e não deixar para trás as coisas de que se gosta. A Deirdre avisou-me que, se fôssemos fazer a tal road-trip por Marrocos, era melhor não viajar durante a noite. O Yahav contou-me como é a vida num kibutz, como foi servir no exército israelita e como, por vezes, uma só pessoa consegue sentir todo o peso da história do seu povo.
Espero ainda não me esquecer do George e da Irinia, romenos a viver em Amesterdão e que esperamos rever aí um dia. Do gentil Aron, que dedicou a vida a viajar e partilhou comigo a sua experiência nas ilhas Quirimba em Moçambique.
Quem precisa de Facebook quando pode encontrar metade do mundo no Alentejo? Portanto, quando aqui vierem, façam o favor de largar o telemóvel e conversarem com as pessoas.