Desemprego: os números que se contradizem

A Comissão de Trabalhadores do INE saiu a terreiro com um comunicado, contra os que não sabem ler os seus dados, alegadamente provisórios ou não, logo a seguir a saber-se que o Governo está maçado com o Instituto por causa dos números do desemprego.

E, para complicar, a Intersindical divulgou um estudo sobre o desemprego de um dos seus técnicos mais reputados, o economista Eugénio Rosa, segundo o qual os dados do INE não incluem cerca de 250 mil pessoas desempregadas, e outras tantas com o subemprego tão do agrado deste Governo, que não lhes dá de maneira nenhuma para se sustentarem e alimentarem. Se os contabilizasse, Eugénio Rosa garante que o desemprego atingiria 22% da população activa. E se o INE lhe der para ir por aí, o que farão os partidos deste Governo, ou do próximo?

Ainda assim, o Governo e o descentrado ministro da Segurança Social deslumbraram-se com os últimos números do INE sobre o emprego, que dão menor percentagem de desemprego, embora também com muito menor quantidade de emprego (coisa de que o Governo não fala). Também quem se agarra a números num assunto tão grave para uma população trabalhadora, não merece grande crédito. E, realmente, alguém devia responder por factos que ajudam a dar a percentagem de desemprego mais baixa nos números, embora longe da realidade, mais afectada pela diminuição de empregos: um excesso de emigração que se diz ter agora voltado aos números dos anos 60 do Século passado, e não há meio de travar; um excesso de subemprego que muito satisfaz o Governo (demonstrando o que se pode esperar dele), mas seguramente deixa desesperados os que são obrigados a recorrer a ele sem se poderem sustentar; os estágios profissionais mal pagos e sem futuro; os contratos a prazo (com despedimento também a prazo, como notou o economista Centeno); etc.

Suponho que em vésperas de campanha eleitoral devemos fixar quem se mostra satisfeito com esta situação. E com um Governo que já se sabe ter tomado medidas desastrosas com inteira indiferença por quem atingia, afogado em prebendas e mordomias dos políticos, e a beneficiar de uma situação internacional inesperadamente favorável (descida do petróleo, juros reduzidos por intervenção do BCE, etc.).