Acredito que haja na Alemanha uma considerável quantidade de gente a não se rever naquela situação, como já havia na altura. Mas, como então, não contam, perante a força de bulldozer da maioria. Também sei que noutros países europeus muita gente, incluindo dirigentes do género dos Passos Coelhos da nossa desgraça, se prontificam a apoiar aquilo, tal como sucedeu da outra vez.
Resta-nos acreditar, como Camus acreditou, que uma superioridade moral vencerá a lógica mercantilista da riqueza alemã, e acabará por impor um sistema mais humano, em que o homem, e não apenas o lucro, seja o seu centro. E em que os totós que se atrevam a garantir com ar de grande suficiência que um povo tem de fazer o oposto daquilo que quer e em que votou deixem de ter lugar – como responsáveis políticos. O drama é estar a deixar-se avançar tanto a loucura, que travá-la vai ser demasiado doloroso para todos. Mas Camus também explicava essa demora: é o tempo que demora a alargar a ideia de que o simples lucro, por ser injusto, é mau.