Os carros mais usados são de boas marcas – BMW, Mercedes e Audi – e importados do estrangeiro, que custam, por exemplo, 35 mil euros, mas ao fim de alguns meses ou semanas os donos recebem cerca de 50 mil euros de indemnização das seguradoras, encaixando um lucro que pode ser, neste caso, de 15 mil euros. Em outros casos com os valores bem inflacionados e sempre com seguros contra todos os riscos, os ganhos são de cerca de 25 mil euros quando o preço de compra (geralmente na Alemanha, Bélgica e Holanda) é mais barato e os seguros são calculados por valores consideravelmente altos.
O esquema consiste, geralmente, em comprar automóveis de boas marcas no estrangeiro e legalizá-los, acrescentando aos carros acessórios de luxo, que aumentam desde logo o valor comercial dos veículos. Após poucos meses de uso, às vezes escassas semanas, os compradores provocam incêndios nos seus próprios automóveis, recebendo a diferença entre o valor gasto e as indemnizações das seguradoras.
As contas são fáceis de fazer: um automóvel custa no estrangeiro, por exemplo, 20 mil euros, a que acrescem 10 mil euros de legalização aduaneira já em Portugal. É feito um seguro contra todos os riscos onde se gastam três mil euros em duas apólices sucessivas.
O proprietário, já apostado em burlar a seguradora, geralmente as mais conceituadas e porque pagam mais rápido indemnizações, inclui entretanto alguns extras, quer dentro, quer no exterior do carro, como jantes e outros apetrechos, por dois mil euros. Ou seja, gastou ao todo 35 mil euros. Como o seguro é feito com os valores altos, que podem ser de 50 a 60 mil euros, o valor restante é tudo lucro para o dono do automóvel, que entretanto já o usou durante alguns meses. Pode assim burlar a seguradora entre 15 e 25 mil euros.
Com as brigadas da Polícia Judiciária ocupadas a investigar incêndios florestais, estão a ser registadas em várias zonas do país, com incidência no Norte, as participações que as companhias de seguros enviam para a PJ, desconfiando de burlas, que quase nunca são provadas, devido à falta de indícios suficientes para sustentar uma acusação, segundo as mesmas fontes policiais contactadas pelo SOL. Neste período de Verão, em que há uma menor possibilidade de peritagens imediatas, especialmente pelos peritos de fogo posto, o número de casos tem vindo a aumentar. O segredo para não ser apanhado é não repetir a burla. As seguradoras sabem que foram enganadas, mas nem os seus próprios peritos, nem as autoridades judiciárias, conseguem geralmente levar os burlões até julgamento.