Secreta russa ao serviço do doping

Um documentário de uma estação televisiva alemã, exibido no final do ano passado, desencadeou uma investigação ao atletismo russo e, após a Agência Mundial Antidopagem (AMA) ter concluído que foram destruídas 1.417 amostras suspeitas de indicarem o recurso ao doping, os atletas russos podem ser banidos dos Jogos Olímpicos de 2016. Espera-se já hoje por…

Liderados por Dick Pound, antigo presidente da AMA, os polícias do doping divulgaram na terça-feira algumas das descobertas, que apontam para “uma corrupção tão abrangente” que tornam impossível pensar que “poderia ter acontecido sem o consentimento das autoridades do Estado”.

O relatório da AMA indica que os atletas que recusaram dopar-se foram marginalizados e os que aceitaram viveram protegidos por um esquema de encobrimento dos controlos positivos. Dick Pound e a sua equipa descrevem que a secreta russa (FSB, sucessora do KGB) “impôs uma atmosfera de intimidação” no laboratório antidoping de Moscovo, ao “vigiar e ameaçar” os seus responsáveis. Grigory Rodchenkov, diretor do laboratório, admitiu a destruição de quase 1500 amostras que poderiam comprometer vários atletas.

Para os investigadores, esta “cultura de batota” representa um “resquício dos tempos da União Soviética” e fez com que os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, tivessem sido “sabotados” pelo atletismo da Rússia. Maria Savinova, medalha de ouro nos 800 metros, e Ekaterina Poistogova, bronze na mesma prova, são duas ‘cabeças’ reclamadas pela AMA como prova de que a Rússia pretende acabar com estas práticas. A AMA exige uma suspensão perpétua de todas as competições a outros três atletas, além de médicos, treinadores e dirigentes da agência russa antidoping, antes de revogar a recomendação de suspender todo o atletismo russo com efeitos imediatos. Em causa, nos tempos mais próximos, estão o Mundial de pista coberta, em março, o Europeu ao ar livre, em julho, e os Jogos Olímpicos, no mês seguinte.

Sem entrar em detalhes, Dick Pound revelou ainda que a investigação se deparou com casos de alegados subornos e chantagens de atletas e altos dirigentes da modalidade, que foram encaminhados para a Interpol. Na semana passada, o antigo presidente da Federação Internacional de Atletismo, o senegalês Lamine Diack , foi detido em França por suspeitas de ter recebido dinheiro para encobrir casos positivos de doping.

O Comité Olímpico Internacional declarou em comunicado que o atletismo enfrenta “um terramoto”.

rui.antunes@sol.pt