Por a imparcialidade ser a “marca central” da sua maneira de ser, daria posse a qualquer governo que tivesse maioria parlamentar. “Vou ser um Presidente alinhado com os governos que os portugueses escolherem”, disse. “Em todas as circunstâncias serei um fator de estabilidade” — desde logo, prometeu, para o Governo de António Costa.
“No que depender de mim, Costa cumprirá a legislatura como outro” primeiro-ministro. Sem estabilidade “não há forma de fazer a mudança” e Sampaio da Nóvoa quer ser um fator decisivo no ciclo político que agora começou, com a ajuda da esquerda. “Durmo descansado com os acordos” feitos com o PCP e BE, disse na entrevista.
Sampaio da Nóvoa é um homem de esquerda, mas a sua candidatura não se confina a esta área política. “Eu não venho em nome de intrigas. Venho em nome de outra política, de país do conhecimento, da educação, do investimento e que leva tudo isso para a economia”.
Avançou para Belém sem a expectativa do apoio de António Costa, garante. Garante, aliás, que o agora primeiro-ministro nunca tal prometeu: “Nunca, nem eu pedi nem ele prometeu". De resto, António Costa “não prometeu nada”, nem um apoio informal. Nóvoa diz que “vive tranquilo com isso” e que teria avançado se soubesse a priori que não teria o PS por trás, ou que Maria de Belém seria uma concorrente.
O candidato repetiu um apelo à convergência da esquerda: “Espero enorme convergência da todas as forças que querem a mudança”. Uma convergência de para “unir as forças de mudança” que “vão para além da esquerda portuguesa”. Forças que “não estão dispostos a estas desigualdades” que se têm acentuado no país.
Sampaio da Nóvoa espera a convergência “o mais tardar na segunda volta” das presidenciais e diz mesmo que é “o que está em melhores condições contra uma candidatura da direita”. Mas nega qualquer “contacto” ou “diligência” junto de Marisa Matias ou Edgar Silva para levar à desistência destes candidatos. “Não houve nenhum contacto. Aproveito para desmentir essa notícia”.
Os ‘superpoderes’ para Belém
Na Europa, Nóvoa diz que Portugal não deve “ficar calado”, mas sim “fazer ouvir a sua voz”. E ele, como Presidente, terá “um poder imenso que é o poder da palavra e o poder de colocar temas na agenda”. A “qualidade da democracia”, a educação e conhecimento, a “Europa e a presença de Portugal no mundo” são temas prioritários na sua agenda presidencial.
Sendo a estabilidade uma das suas marcas, Sampaio da Nóvoa diz que “seria insensato” dizer se demitiria um governo por não cumprir o Tratado Orçamental, como fez Maria de Belém. Se o incumprimento de uma regra europeia levasse à demissão do Executivo, “teríamos dissolvido a AR nestes anos todos, cada vez que há um défice que não se cumpre”, exemplifica. “Não precisamos de mais instabilidade, de mais crispação”, conclui.
Questionado se veria com bons olhos a presença do PCP e do BE no Conselho de Estado, começou por recusar “imiscuir-se na forma como a Assembleia da República está representada” neste órgão. Acrescentou, porém, que na quota que cabe ao Presidente no Conselho de Estado tentaria “compensar sub-representações” dos partidos.
A entrevista terminou com o tema da falta de experiência política de Nóvoa. “Tenho a experiência da polis, da profissão, e de serviço às causas públicas”, argumentou. E invocou a seu favor os apoios “intensos” dos ex-presidentes Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. “Todos consideram que tenho a experiência necessária para este cargo”.