PS: Sousa Pinto deixa aviso no Facebook

Se parecia que os críticos à deriva de esquerda do PS tinham ficado rendidos à política de António Costa, Sérgio Sousa Pinto vem mostrar que não é bem assim. Num post publicado na sua página no Facebook, o deputado socialista avisa para os riscos de “tirar o socialismo da gaveta, onde Soares o teria metido”.

Sousa Pinto acha que o posicionamento político do PS não deve ser posto em causa, mesmo que se apoie a solução encontrada por Costa para formar Governo. Porque ficar demasiado próximo da esquerda do BE e do PCP pode pôr em risco o espaço vital do partido que se colocou historicamente muito mais ao centro: “Apoiar lealmente este governo nos seus esforços é uma coisa. Desfilar com entusiasmo acéfalo num mundo de fantasias, ilusões e enganos é outra”.

“Primeiro partido socialista do sul da Europa a chegar ao poder, o PS nada tem a incorporar em seu benefício, do radicalismo e da demagogia dos que se imaginam ‘mais de esquerda’, apropriando-se com estridência das grandes realizações sociais dos governos do Partido Socialista”, avisa o deputado.

Para Sérgio Sousa Pinto, a própria história do partido deixa claro que os que agora servem de apoio parlamentar ao Governo de António Costa não são necessariamente os seus aliados naturais.

“As dificuldades da governação, o confronto com realidades teimosas, o reconhecimento de obstáculos históricos e naturais, repetidamente enfrentados no passado por toda a sorte de governantes, republicanos, liberais, ministros do absolutismo até – fortaleceram no PS uma abertura à complexidade, ao pragmatismo, ao compromisso, ao possibilismo. É por isso vital que o PS, e sobretudo os seus militantes, não se afastem dessa cultura política fundamental, sobre a qual Mário Soares construiu o nosso partido”, escreve no Facebook o socialista que desde a primeira hora divergiu dos acordos à esquerda apesar da sua proximidade em relação a António Costa.

Sousa Pinto recorda, de resto, que o inimigo natural de BE e PCP é a direita, mas que esse raciocínio não se aplica aos socialistas.

“Nunca foi esta a cultura do PS, forjada na oposição à ditadura e, depois, ao projeto de assalto ao poder do PCP”, sublinha, defendendo que o fim do “muro” que separava as esquerdas – como lhe chamou Costa – não é forçosamente uma coisa boa para os socialistas, que se devem manter ao centro para não perderem o seu espaço político histórico.

“Comunicar construtivamente com os outros do lado de lá, por cima do muro, já é muito. Sem esquecermos que queremos que o futuro de Portugal se decida do lado de cá”, reforça Sousa Pinto, que viu na votação do Orçamento Retificativo – com os votos contra do BE e do PCP – a prova da fragilidade dos acordos à esquerda.

“Ainda se ouviam pandeiretas e já o muro ressurgia, descoberto pela votação do orçamento retificativo. Ainda ecoavam os pífaros e já o arco da governação se impunha outra vez, tão real e… tangível como o arco da Praça de Espanha”, diz Sérgio Sousa Pinto para lembrar que quem acabou por dar a mão a Costa foi o PSD de Passos Coelho, mostrando que os dois partidos ainda se podem encontrar ao centro.