Foram ainda detidos mais dois indivíduos. A SIC Notícias avança que se trata de um contabilista e do vice-presidente da SAD. Já a Lusa refere que o terceiro era um assessor do empresário russo.
As detenções ocorreram no âmbito da Operação Matrioskas, que conta no total com seis arguidos. Os outros três indivíduos ficaram com termo de identidade e residência, lê-se no Expresso.
Os três detidos deverão ser presentes para interrogatório judicial ainda hoje ou na quinta-feira, no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa.
Recorde-se que a PJ realizou ontem buscas nas SAD do União de Leiria, Sporting, Benfica e Sporting de Braga. Em causa estão crimes de falsificação de documentos, fraude fiscal e branqueamento de capitais, relacionados com negócios de jogadores entre a União de Leiria e os restantes clubes.
"A investigação desenvolve-se desde o início de 2015, tendo por objeto a presumível prática de crimes de branqueamento, fraude fiscal, falsificação de documentos e associação criminosa por parte de cidadãos nacionais e estrangeiros, correlacionados com a atividade desportiva", lê-se num comunicado da PJ.
No total, foram constituídos seis arguidos.
Fonte policial adiantou ainda que as SAD do Benfica, Sporting e Braga "não são alvo de investigação", já que esta está centrada na SAD da União de Leiria.
O esquema
O presidente da SAD da União Desportiva de Leiria, o russo Alexander Tolstikov, terá montado um esquema de lavagem de dinheiro simulando vendas ou empréstimos de jogadores por preços superiores aos reais: por cada negócio, o montante que entrava nos cofres da SAD do União de Leiria era muito superior ao estipulado no contrato firmado com o emblema que ficava com o atleta.
Segundo o i apurou, dois dos casos que estão a ser investigados na Operação Matrioskas são o empréstimo de Vitaly Lystov ao Benfica B, no ano passado, e o empréstimo de Tomás Rukas, este ano, ao Sporting. O passe destes dois jogadores pertencia ao União aquando dos empréstimos.
Além de Tolstikov foram constituídas arguidas outras três pessoas com ligações a este cidadão russo, a SAD e o clube. No entanto, fonte da Polícia Judiciária admitiu ontem que podem vir a ser indiciadas mais pessoas no âmbito desta operação.
A investigação que está em curso desde 2015 culminou ontem com 22 buscas em Leiria, Lisboa e Braga. Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República esclarece mesmo que “as buscas abrangeram, designadamente, os estádios de futebol de Braga e Leiria, as SAD do União de Leiria, do Sporting Clube de Portugal e do Sport Lisboa e Benfica bem como residências particulares, empresas, veículos, escritórios de contabilidade e um escritório de advocacia”.
Em causa, segundo informação oficial da PJ, estão suspeitas dos crimes de “branqueamento, fraude fiscal, falsificação de documentos e associação criminosa por parte de cidadãos nacionais e estrangeiros, correlacionados com a atividade desportiva”.
As diligências foram levadas a cabo por 22 equipas da Polícia Judiciária, por um procurador do Ministério Público, um juiz e um representante da Ordem dos Advogados. Além disso, a investigação tem uma dimensão internacional: contou com a colaboração da Europol e da polícia inglesa.
Lucros para o presidente
O nome Matrioskas espelha bem o esquema de multiplicação de dinheiro feito com apenas um jogador. Os montantes pagos por clubes como Benfica, Sporting ou qualquer outro era muito inferior ao que se registava nas contas da SAD do União de Leiria referentes àqueles negócios.
Fonte da Polícia Judiciária que preferiu não se identificar explicou ontem ao i que é por esse motivo que eram “fundamentais” as buscas aos clubes que participaram no negócio.
Exatamente por não terem estado envolvidos no esquema, os clubes que receberam os jovens jogadores arranjados por Alexander Tolstikov têm registados nas suas contas os valores corretos que desembolsaram com os empréstimos (ou compras).
“O objetivo das buscas passa, por isso, por confrontar os montantes que constam como recebidos na SAD da União de Leiria com os que constam nas contas dos clubes que pagaram pelo jogador”.
As autoridades acreditam que vão encontrar desfasamentos, dinheiro que entrou a mais na SAD do Leiria para ser lavado.
“Grande parte do lucro de tais negócios acabaria em contas ligadas ao presidente da SAD do União de Leiria”, diz outra fonte da PJ lembrando que, desta forma, aquele dinheiro já não era ilegal e passava a ser facilmente justificável.
Para que todo o esquema funcionasse, os negócios apenas poderiam envolver jogadores menos conhecidos, de equipas B. Caso contrário, o mediatismo dos negócios entre clubes e a publicação dos valores relativos às transações e empréstimos poderia levantar dúvidas.
Desde que Alexander Tolstikov chegou a Portugal, há cerca de um ano, foram vários os jogadores de nacionalidade russa ou de outros países de leste que chegaram ao mercado português pela sua mão. O cidadão russo, que também é agente, representará atualmente mais de 35 futebolistas, praticamente todos com nacionalidade russa.
As mudanças na SAD em 2015
No verão do ano passado, foi anunciada a constituição da SAD do União de Leiria, com um capital inicial de 1 milhão de euros (estava extinta desde 2013). Quando foi constituída, foi também tornado público que seria detida em 40% pelo União de Leiria e em 60% pela DS Investment LLP, que Tolstikov será um dos responsáveis. Terá sido através desta sociedade detida pelo grupo russo D-Sports que parte do dinheiro remanescente aos das vendas e empréstimos de jogadores foi injetado de forma a que quando saísse para a esfera do presidente da SAD tivesse uma aparência legal. O percurso do dinheiro era também muitas vezes camuflado com passagens por contas offshore, explicam fontes próximas da investigação.
Clubes confirmam buscas Ontem a SAD do Sporting de Braga confirmou ter sido alvo de buscas, negando porém qualquer envolvimento no esquema. “Nem a SC Braga – Futebol SAD nem qualquer um dos seus representantes ou colaboradores são visados na investigação referida, tendo prestado todas as informações solicitadas e demonstrado total disponibilidade para cooperar com as entidades competentes”.
Fonte oficial do clube da Luz também confirmou a visita das autoridades, explicando que foi solicitada “documentação em relação a duas transações efetuadas com terceiros, no âmbito de uma operação de investigação em que a Benfica SAD não é visada”.