Passos: “Não vale a pena andarem com conversa fiada”

Ex-PM diz que fez mais investimento público do que “um governo que se diz de esquerda”

A geringonça caiu num paradoxo: é de esquerda, mas corta no investimento público. A crítica foi feita por Passos Coelho durante o fim de semana. “Hoje temos um governo que diz uma coisa e faz outra. Diz que acabou a austeridade, que o investimento público é relevantíssimo, mas faz como muita da despesa pública, empurra com a barriga, disfarça e vai adiando, para poder dizer que está tudo bem”, afirmou o líder do PSD.

Segundo Passos, o investimento público tem sido cortado para cumprir o défice, levando o executivo de António Costa a investir menos que o governo anterior e até a cancelar obras. “Quando comparado com há um ano, o atual governo está a gastar menos quase 230 milhões de euros em investimento público.” 

O líder social-democrata lembrou o seu governo, “que passou por tantas dificuldades” e, mesmo assim, “investiu mais que um governo que se diz de esquerda”. “Onde estão essas vozes no PS, no BE e no PCP, que se incomodavam, que achavam que era uma vergonha o Estado gastar tão pouco no investimento público?”, perguntou Passos Coelho a uma audiência composta por mais de 600 militantes do partido, em Paços de Ferreira. “Não vale a pena andarem com conversa fiada”, advertiu de seguida, recebendo aplausos. 

“O que temos daqui para a frente, por decisão do governo, é um crescimento mais lento, que vai gerar menos receitas fiscais, e vamos ter mais despesa, que o governo também já decidiu.” Passos afirma que este cenário levará a um incumprimento do limite do défice, tendo em conta que os atuais indicadores revelam uma diminuição do investimento público e privado. “Tudo aponta para que o que temos à nossa frente seja, portanto, um caminho que já não é de voltar ao défice do ano anterior, é de poder até ficar além desse défice.”

O ex-primeiro-ministro tornou a realçar a importância de se obter a confiança dos mercados para sustentar o crescimento económico, terminando com a questão: “Alguém acredita que um governo orientado por um pensamento comunista, bloquista ou socialista cria confiança nos investidores, atrai o investimento e promove a riqueza?”

Em Penafiel, no dia de ontem, o líder da oposição reafirmou o contexto negativo em que, a seu ver, a governação de António Costa está a mergulhar o país. “Cada mês que passa, as contas vão ficando menos boas e, com a experiência que tenho de governo, sabendo o que sei da execução de Orçamentos e conhecendo as opções que já foram tomadas e que se refletirão nos próximos meses, vejo que haverá mais dificuldade em que o resultado que foi anunciado possa ser atingido”, defendeu Passos Coelho sobre o contraste entre o Orçamento do Estado para 2016 e a execução orçamental corrente. 

Sobre a necessidade de manter o défice abaixo do limite prometido à União Europeia, afirmou esperar que “isso não se faça à custa de quebras de palavra em investimentos que eram importantes, como era, por exemplo, aqui para toda esta região, o IC35”, dando de seguida o exemplo sobre o que foi feito quando ainda era primeiro-ministro. “Nós conseguimos lançar o concurso para adjudicar a primeira empreitada dessa obra e, passado um ano, essa obra, que era importante, não pode ser feita. O atual governo cancelou-a, sabem porquê? Porque não tem o dinheiro de que precisa para que as contas batam certo no défice”, disse Passos. 

A acusação sobre o contraste entre as governações esteve sempre bem latente no discurso de Pedro Passos Coelho. “Há muitos projetos que até um governo que tinha dificuldades financeiras grandes, como nós tivemos no passado, conseguiu pôr de lado o suficiente para que essas obras pudessem avançar. Agora estão todas na prateleira.”