Este ano, a permanência do ‘superjuiz’ à frente da Operação Marquês esteve por um fio. Soube-se no dia 20 que o Conselho Superior da Magistratura decidiu arquivar a queixa de José Sócrates contra Carlos Alexandre. Antes já a Relação de Lisboa tinha analisado o pedido de afastamento do magistrado – interposto pelo ex-primeiro-ministro – e decidido que não havia “motivo sério e grave” que pusesse em causa a imparcialidade do juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal.
Tudo começou em setembro, quando Carlos Alexandre deu uma entrevista à SIC e falou sobre a sua vida pessoal e profissional. “Como eu não tenho amigos, amigos no sentido de pródigos, não tenho fortuna herdada de meus pais ou de meus sogros, eu preciso de dinheiro para pagar os meus encargos. E não tenho forma de o alcançar que não seja através do trabalho honrado e sério”, referiu na altura, adiantando: “Sinto-me escutado no meu dia-a-dia, sob várias formas. (…) Por vezes há pessoas que não conseguem estabelecer contacto comigo. O telefone vai a baixo, para voice mail quando eu estou em sítios onde há carga máxima e onde há comunicações. Não estou a dizer que há forças dessas…nomeadamente dos serviços de informações. Não estou a imputar”.
Estas foram algumas das declarações que levaram a defesa de José Sócrates, arguido na Operação Marquês, a apresentar queixa contra o juiz e a exigir o seu afastamento, por estar em causa uma quebra de imparcialidade.
A reclamação levou à abertura de um inquérito pelo Conselho Superior da Magistratura em outubro deste ano. Na semana passada, o órgão de disciplina dos juízes decidiu arquivar a queixa, justificando da seguinte forma: “Pese embora sendo pouco felizes na sua expressão algumas dessas declarações, as mesmas não se revestiam de relevância disciplinar”.
O percurso do ‘superjuiz’ Nascido em Mação, distrito de Santarém, em 1962, Carlos Manuel Lopes Alexandre é conhecido por muitos como o ‘superjuiz’. Tirou o curso na Faculdade de Direito de Lisboa, passou pela PJ Militar e esteve no Tribunal de Sintra antes de chegar ao Tribunal Central de Instrução Criminal.
Pelas mãos do magistrado passaram alguns dos casos mais mediáticos dos últimos tempos, como os processos Monte Branco, Face Oculta, Furacão, Remédio Santo, BPN ou Marquês. Assinou a detenção de Ricardo Salgado, aquando da investigação que envolveu o Banco Espírito Santo (e o GES), a de José Sócrates, no âmbito da Operação Marquês, e a de Duarte Lima, no caso do BPN/Homeland.