"Não é demais garantir clareza sobre as consequências das opções tomadas", afirma deputada Mariana Mortágua, que veio ao plenário lembrar que com a decisão de venda do Novo Banco à Lone Star "cerca de 60% dos ativos bancários ficam em mãos estrangeiras".
Mariana Mortágua trouxe os números para demonstrar o que considera ser um negócio em que o Estado só fica a perder.
"O Lone Star leva consigo os 3,9 mil milhões de euros que já foram injetados no Novo Banco. Paga zero pela compra e injeta depois mil milhões no banco que já é só", explica a bloquista, assegurando que o negócio só se fez porque houve uma garantia pública.
"Além disso, o Lone Star não quer assumir as futuras perdas de uma carteira de oito mil milhões de empréstimos duvidosos. É aqui que entra a garantia pública que o Governo assegurou que nunca existiria. O Lone Star tem 75% do Novo Banco, mas só assumirá perdas até aos mil milhões que ele próprio injetou. O Estado fica com 25%, mas pode ter de assumir perdas até 3,890 milhões de euros", aponta Mariana Mortágua.
Estado pode pagar até 7,790 milhões de euros
"Feitas as contas, no pior dos cenários, o Lone Star gasta mil milhões para ficar com um banco limpo e o Estado paga 7,790 milhões para ficar sem banco nenhum", denuncia, que acha que "o Fundo de Resolução é uma fachada", já que é alimentado não pelos bancos mas pelos empréstimos feitos pelo Estado.
"Se os bancos pagassem toda a sua dívida deixariam de cumprir os seus próprios rácios de solvabilidade. Como tal, essa dívida foi reestuturada e reduzida até ao ponto em que as prestações de pagamento coincidem, nem mais nem menos, com a contribuição que os bancos já eram obrigados a pagar ainda antes da resolução do BES", critica Mortágua.
"Foi isto que aconteceu. A banca pagará aquilo que sempre foi obrigada a pagar, nem um cêntimo a mais, e o Estado continuará a endividar-se para sustentar o Fundo de Resolução", comenta Mariana Mortágua, que acha que "as melhores decisões não se tomam com base em ficções ou chantagens".
Na Alemanha banca pública tem 40% do mercado
Para o BE, são "ficções" as ideias de que a venda se fez a custo zero e de que não haveria alternativa.
"Por que deve então o Estado em nome de 10% das perdas potenciais, entregar de borla um banco onde já enterrou tanto dinheiro", questiona Mortágua, que diz que "o BE não esconde os custos" da nacionalização, mas continua a defender que essa seria a melhor opção.
"Na Alemanha, a banca pública representa 40% do mercado bancário", frisa a deputada, que lembra uma sondagem de fevereiro na qual 52% dos portugueses "defenderam a nacionalização em vez de uma venda como esta".