O futuro da mobilidade é ser um serviço. Mais do que as pessoas serem donas de um meio de deslocação, a tendência é que este seja partilhado. O automóvel é o exemplo paradigmático.
Numa conferência esta semana Lisboa, como o tema «O Futuro do Automóvel» foram apontados vários caminhos para uma «transformação que começou há muito tempo e na qual estamos a meio do caminho». O CEO da Vodafone Automative apresentou a perspetiva da sua empresa como «fornecedor de conectividade para a indústria da mobilidade», apontando que «a indústria automóvel está no meio da transformação digital» e que o «desafio é implementar essa tecnologia».
De acordo com Gion Baker, o futuro do automóvel será «automatizado, partilhado e conectado» de forma a garantir uma «mobilidade permanente». Daí que, argumentou o secretário de Estado do Ambiente, a mobilidade passará a ser um «serviço». Segundo José Mendes, há «tendência para a redução quase a zero» de se ser dono de um automóvel. O «importante é ter acesso ao serviço», fazer a «partilha do veículo sem ter posse do veículo».
O governante aponta que estes serão «tendencialmente autónomos e conectado», sendo a «conectividade condição de base para a autonomia». O CEO da Vodafone Automative aponta que os «fornecedores de conectividade» tem como missão «juntar as coisas», uma vez que «nenhum dos setores da indústria trabalha sozinho».
Este foi também um dos pontos argumentado por Franco Caruso. O responsável da Brisa apresentou a empresa como «uma operadora de mobilidade» que trabalha na «completa integração dos modelos de transporte e das infra-estruturas».
De acordo com Franco Caruso, a mobilidade é «serviço utilizável por quem conduz e por quem não conduz» e o desafio está em conseguir «o acesso de todos a novas soluções e à expetativa de ter uma acessibilidade diferente à mobilidade».
Miguel Santos, diretor de desenvolvimento da Bosch Portugal, corrobora que o futuro da mobilidade passa pela «comunicação dos carros entre si e com os sistemas da cidade» e antevê que a «introdução do 5G vai ter um grande impacto».
Mudança na indústria
Segundo o vice-presidente da APVE- Associação Portuguesa do Veículo Elétrico, a «lógica do produto evolui para a lógica do serviço» e a moblidade como serviço está a promover uma «mudança da indústria automóvel», com uma «evolução dos modelos industriais das marcas» já «pensados para o automóvel do futuro», que tem como perspetiva a «mobilidade urbana» e é assente em «tecnologias de condução autónoma».
Luís Reis considera que a convergência para a mobilidade urbana está a mudar o «modelo de mercado e modelo de negócio» e lembra que «em 2008/2009 não havia nenhum grande construtor de veículos eléctricos».
O responsável da APVE lembra que «o veículo eléctrico sofreu com a quebra do automóvel e está a retomar» pelo que há aqui uma oportunidade que deverá ser «bem aproveitada». Mas para o fazer há uma outra condição obrigatória, para além da conectividade, que é a energia.
O futuro do automóvel vai levar a um «maior consumo de electricidade», lembra o diretor da EDP Comercial. Daí que seja necessária uma maior «produção de energia para alimentar o carro eléctrico», diz José Lobato Duarte. O responsável da empresa de energia revela que esta tem como objetivo tornar «os sistemas mais eficientes» e «ajudar a mudar o paradigma como o cliente final interage com a electricidade».
O diretor comercial da EDP considera que o automóvel tem «apetência para energia solar», opinião que é partilhada por José Mendes, para quem esta é «uma combinação virtuosa». A energia solar fotovoltaica teve nos últimos anos uma redução de 70% em toda a cadeia de valor.
Entre os oradores da conferência há o consenso que «a electrificação é incontornável» e Luís Reis considera mesmo que os veículos serão 100% eléctricos numa «realidade focada no perímetro urbano».
Esta é também a perspetiva da Nissan, uma das marcas que mais tem apostado e desenvolvido o carro eléctrico, tendo também o modelo eléctrico de maior sucesso no mercado. Segundo o Diretor de Veículos Elétricos da Nissan Europe, a nossa política «tem tudo a ver com as vilas e cidades de toda a Europa», uma vez que estas têm um «problema de poluição e congestão».
De acordo com Gareth Dunsmore, o objetivo é obter «zero emissões e zero fatalidades» na perspetiva de tornar a «mobilidade inteligente uma realidade para toda a gente, em todo o lado, todos os dias».
Regulação e incentivos
No entanto, para chegar a esta realidade, diz Miguel Santos, vamos passar por «fases de transição muito diferentes», nomeadamente a «inovação para a condução autónoma».
Na atualidade esta tecnologia está a ser testada no nível 2 – a Full Autonumous Driving é o nível 5. Segundo Franco Caruso, «Portugal tem potencial» para este desenvolvimento «uma vez que somos muito atrativos para ensaios», mas que a «troca da combustão interna pela electrificação não vai depender das pessoas».
Na opinião do responsável da Brisa, esta «depende de regulação. Há nós que dependem de regulação política». Já o vice-presidente da APVE argumenta que «o veículo elétrico não está dependente dos políticos» e «há soluções racionais do mercado». Ainda assim reclama uma política de incentivos públicos na «lógica do custo/benefício» e aponta a Noruega como um exemplo em que os incentivos levaram a que «mais de metade das vendas» de automóveis sejam de elétricos e que neste momento já está em estudo a retirada destes incentivos.
O secretário de Estado defende que o papel dos governos passa pela «regulação em nome do interesse público» e «não deve ser limitador». José Mendes considera ainda que os governantes deverão «aportar os incentivos certos para tecnologias e conceitos incipientes».