Novo Banco sob vigilância das agências de rating

A troca de obrigações, uma das exigências para que a venda se realize com sucesso, continua a fazer soar alarmes junto da Moody’s e da DBRS.

O Novo Banco está sob o olhar atento das agências de rating. Depois da Moody’s ter baixado o rating da instituição financeira por causa da operação de troca da dívida sénior, é a vez de a DBRS cancelar o rating de BBB (low) das obrigações seniores e não subordinadas do Novo Banco garantidas pelo Estado Português, considerando que esta dívida foi reembolsada e/ou cancelada. 

No seu relatório, a DBRS explica que tomou esta decisão por considerar que o risco para os obrigacionistas aumentou devido ao anúncio sobre a troca de obrigações que o banco vai lançar para se recapitalizar.

A verdade é que esta operação é uma das três exigências – a esta acresce ainda a necessidade de autorização por parte do Banco Central Europeu e da Direção Geral da Concorrência – para que a alienação seja feita, uma vez que, neste momento, ainda há risco de liquidação. Com este processo está previsto recapitalizar o Novo Banco em pelo menos 500 milhões de euros.

No entanto, o presidente do Novo Banco está otimista em relação à operação. «Se uma obrigação tem uma taxa de 7,5% é porque há risco nesse ativo. Acredito que o investidor ficará satisfeito se ficar com um ativo de menor risco», revelou no mesmo dia em que o banco apresentou prejuízos de 788,3 milhões de euros em 2016, ainda assim uma melhoria de 15,2% em relação aos resultados negativos de 2015, que tinham sido de 949,5 milhões de euros.

 António Ramalho disse ainda que as linhas de obrigações abrangidas por esta oferta de troca estão avaliadas em 3200 milhões nas contas do Novo Banco no final de 2016.

Já em relação aos timings para que a venda fique concluída, as intenções são idênticas à do secretário de Estado do Tesouro, Mourinho Félix: ambos querem fechar até ao verão o dossiê da alienação do Novo Banco ao fundo Lone Star, em que este ficará com 75% da instituição financeira sob a promessa de injetar mil milhões de euros. Os restantes 25% ficarão nas mãos do Fundo de Resolução. 

Processos 

O processo de venda está longe de gerar consensos, apesar de António Ramalho considerar que a oferta da Lone Star «tem o equilíbrio necessário para dar os passos necessários à sua conclusão». Ainda esta semana deu entrada em tribunal um processo por parte de um grande grupo de credores liderado pelos gigantes BlackRock e Pimco. Em causa está a transferência de cinco linhas de dívida do Novo Banco para a massa falida do BES, ou o chamado ‘banco mau’. Este grupo de grandes investidores tinha investido 2,2 mil milhões de euros em obrigações seniores do Novo Banco.

No final de 2015, o Banco de Portugal decidiu transferir essa parte do crédito do Novo Banco para a esfera dos ativos do BES, medida que resultou em perdas de 1,5 mil milhões de euros para os clientes destas gestoras de ativos.
Esta questão foi desvalorizada por António Ramalho ao referir que «o banco está acostumado a conviver com processos judiciais. Todos merecem uma análise, mas não acreditamos que haja neste momento risco para a operação de venda».

Plano de reestruturação 

Apesar das perdas registadas no ano passado, a instituição financeira sublinha que foram reforçadas as provisões para imparidades, atingindo os 1374,7 milhões de euros, mais 316 milhões que em 2015. E explica que estas destinam-se a cobrir eventuais perdas com créditos no valor de 672,6 milhões de euros, com títulos (315,9 milhões) e com custos de reestruturação (98,2 milhões de euros).

O presidente do Novo Banco garante: «Estamos a registar as imparidades adequadas aos momentos em que atuamos. As características próprias do nosso balanço e da carteira de ativos leva-nos a ser cautelosos».
Já os objetivos fixados no plano de reestruturação foram considerados «integralmente cumpridos». Assim, e relativamente a novembro de 2015 (data de referência para efeitos dos compromissos assumidos com a DG Comp no âmbito do plano de reestruturação), o número de trabalhadores foi reduzido em 1312 (incluindo as atividades em descontinuação), face ao objetivo estabelecido de redução de mil a 31 de dezembro de 2016. 

A instituição financeira acabou por terminar o ano com um total 6096 colaboradores, sendo 5687 na atividade doméstica. Já a rede distribuição foi reduzida para 537 balcões (o objetivo era de 550 a 31 de dezembro de 2016) apresentando uma redução de 116 unidades. A redução dos custos operativos ultrapassou a meta estabelecida (menos 150 milhões a 31 de dezembro de 2016).

«Já atingimos o número de redução de trabalhadores mais ambicioso do que aquele que estava previsto em 2016», esclareceu Ramalho, mas deixou uma promessa: «o objetivo de redução [de colaboradores da instituição] vai manter-se».